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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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<strong>entre</strong> elas e todos os restantes elementos iconográficos do cadeiral, sejam eles profanos<br />

ou sagrados. Desde os apoia-mãos, às próprias figuram em relevo que pairam sobre as<br />

representações de santos nos painéis laterais, às esculturas dos terminais das cadeiras até<br />

às próprias esculturas de vulto principais, todos revelam diferentes mãos, diferentes<br />

sensibilidades, diferentes hábitos e diferentes formas de transformar a madeira.<br />

A evocação deste exemplo, a tantos níveis paradigmático, serve-nos sobretudo<br />

para compreender que apesar das semelhanças gerais – que incluem a dimensão, a<br />

desigualdade dos níveis de execução dos diversos níveis decorativos, consoante a sua<br />

posição mais ou menos dignificante e o seu conteúdo mais ou menos explicitamente<br />

religioso e a criação das misericórdias em pares ou repetições binárias do mesmo tema<br />

ou motivo – o cadeiral de Santa Cruz apresenta características próprias que apontam,<br />

muito provavelmente, no sentido de uma menor especialização do trabalho aplicado aos<br />

diversos elementos a decorar, já que em todos eles se verifica essa oscilação qualitativa,<br />

sobretudo ao nível da execução.<br />

Partindo da análise das misericórdias, o exemplo de Kleve serve sobretudo para<br />

nos alertar da possibilidade de os pares temáticos identificados (que adiante<br />

abordaremos com maior pormenor) indicarem, para além de uma articulação discursiva<br />

que claramente concorre para a explicitação da mensagem de cada uma das imagens, a<br />

utilização do mesmo tema, ou do mesmo mote, para a decoração das misericórdias por<br />

parte de entalhadores diferentes. Efectivamente, se algumas das correspondências<br />

estabelecidas se baseiam sobretudo na complementaridade temática, como é o caso das<br />

misericórdias que apresentam dois episódios da mesma fábula da Raposa e da<br />

Cegonha 200 , outras baseiam-se simplesmente na repetição de motivos, como é o caso<br />

das misericórdias onde se esculpiram duas figuras humanas de costas 201 , ou ainda das<br />

esculturas das aves de asas levantadas 202 .<br />

Se a motivação destas repetições residiu numa predeterminação programática,<br />

por parte do mestre, dos encomendantes ou de ambos, que preferiram conferir uma<br />

dinâmica de diálogo às misericórdias do cadeiral, ou se, pelo contrário, encontra a sua<br />

explicação numa prática de treino de aprendizes ou escultores menos experientes,<br />

200 Vide Vol. II, Anexo I, inventário de misericórdias (M18 e M48).<br />

201 Vide Vol. II, Anexo I, inventário de misericórdias (20 e M35).<br />

202 Vide Vol. II, Anexo I, inventário de misericórdias (M5 e M23).<br />

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