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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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a ela que D. Francisco de Mendanha se refere na sua Descripçam e debuxo do<br />

Moesteyro de Santa Cruz de Coimbra, saberemos pelo menos – salvaguardando as<br />

devidas reservas – que era integralmente feita de madeira de nogueira de proveniência<br />

nacional e podia suportar quatro livros de grandes dimensões 239 . Ainda que o referido<br />

religioso seja extremamente parco em palavras quando se trata de descrever a<br />

decoração, ou lavor, da estante, não se priva de adjectivá-la de pomposa 240 , o não deixa<br />

de sugerir que o resultado final do trabalho de Lorete não terá desiludido a encomenda,<br />

que pretendia uma peça rica, utilitária mas de aparato.<br />

As pistas deixadas pela materialidade da obra, uma vez mais, dão-nos alguns dados<br />

relativamente à qualidade do trabalho de Lorete e da sua equipa, da qual talvez não<br />

possamos afastar um indivíduo chamado Charles Francês que pela mesma altura se<br />

encontraria em Coimbra, a trabalhar para o mosteiro de Santa Cruz 241 . Se a aparente<br />

uniformidade do talhe das misericórdias, atlantes e decoração da cimalha resultantes<br />

dessa segunda intervenção não nos permite distinguir mais do que um traço autoral, já<br />

os painéis laterais e terminais são bem reveladores do trabalho de dois artistas de<br />

características bem diferenciadas ou, quando muito, de um artista a trabalhar em dois<br />

registos completamente distintos, o que se afigura menos verosímil. Observando,<br />

sobretudo, os painéis terminais de ambas as filas de cadeiras, altas e baixas, notamos<br />

rapidamente uma oscilação ao nível da sua execução 242 : o primeiro e último destes<br />

painéis, revelam melhor detalhe e, simultaneamente, maior espontaneidade e delicadeza,<br />

assemelhando-se até pela profusão do ouro, a um verdadeiro trabalho de ourivesaria; já<br />

o painel terminal número 7 revela uma sensibilidade escultórica distinta, mais<br />

impositiva quanto à solidez das formas que, pese embora a óptima execução, não se<br />

pautam pela fluidez quase imaterial dos enrolamentos vegetalistas, delírios grutescos e<br />

hibridizados, dos restantes painéis.<br />

Independentemente destas diferenças, é perfeitamente visível que, na projecção do<br />

programa decorativo, Lorete criou composições de grande qualidade e impressionante<br />

efeito visual, articulando a forma das cadeiras principais do cadeiral preexistente e os<br />

239<br />

Cf. MENDANHA, D. Francisco, “Descripçam e debuxo do Moesteyro de Santa Cruz de Coimbra”<br />

(1541), Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, vol. XXIII, Coimbra, Biblioteca da<br />

Universidade, 1957, p. 125.<br />

240<br />

Cf. MENDANHA, D. Francisco, “Descripçam e debuxo do Moesteyro de Santa Cruz de Coimbra”, p.<br />

125.<br />

241<br />

Cf. DIAS, Pedro, A Arquitectura de Coimbra na transição do Gótico para a Renascença…, p.191.<br />

242<br />

Vide Vol. II, Anexo I, inventário de painéis laterais e terminais (PT1, PT2, PT7 e PT8).<br />

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