Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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e um óptimo domínio técnico. A singularidade da misericórdia 42 208 apresenta,<br />
inclusivamente, alguns paralelismos em território espanhol. Se no cadeiral crúzio ela é a<br />
única a assumir essa definição bilobada da consola, esta é a forma preferencialmente<br />
usada no cadeiral do Funchal e nos cadeirais de Sevilha, Plasencia, Ciudad Rodrigo<br />
todas as misericórdias são assim. E, da mesma forma como nos surpreende a sua<br />
existência solitária no conjunto das misericórdias trilobadas do cadeiral crúzio, também<br />
a presença de uma única misericórdia trilobada no cadeiral de Plasencia provocou<br />
surpresa a estudiosos como Henry e Dorothy Kraus 209 . O facto de todas as cadeiras do<br />
coro de Toledo, da autoria de Rodrigo Alemán, possuírem misericórdias com essa<br />
definição trilobada – que é mais uma das características que possui em comum com o<br />
cadeiral de Santa Cruz – conduziu à lógica conclusão de que a estranha misericórdia de<br />
Plasencia, aposta ao assento da cadeira do rei, não poderia ter outra autoria que não a do<br />
próprio Mestre 210 . <strong>Uma</strong> marca de individualidade, sem dúvida, que não nos custa ver<br />
repetida por Machim no seu primeiro cadeiral criado em território português.<br />
A sugestão destes grupos que, uma vez mais, não assumem o carácter de<br />
proposta assertiva, dada a extrema dificuldade de circunscrição deste tipo de elementos<br />
em conjuntos absolutamente definidos (e, de resto, vários foram os exemplares<br />
excluídos deste exercício), tem como objectivo principal fornecer uma ideia global das<br />
diferenças de caracteres que o conjunto das misericórdias do cadeiral crúzio apresenta.<br />
A partir delas podemos, quase de imediato, compreender que as semelhanças com o<br />
cadeiral de Kleve se ficam pela existência comum de pares temáticos de misericórdias,<br />
já que a facilidade de atribuição das esculturas renanas a um número reduzido de<br />
entalhadores, que tecnicamente se encontravam em níveis muito aproximados, não tem<br />
qualquer paralelo no caso do cadeiral crúzio. Efectivamente, não só somos levados a<br />
assumir que as suas misericórdias foram criadas por várias pessoas (um mínimo de<br />
quatro, a avaliar pelos grupos sugeridos, embora o número total fosse certamente maior,<br />
talvez chegando mesmo a envolver toda a equipa), como se torna nítido que, de forma<br />
alguma, estas pessoas pertenciam ao mesmo nível hierárquico dentro da oficina.<br />
A relativa homogeneidade dos apoia-mãos, que lhe é conferida, aliás, pela sua<br />
definição formal e iconográfica, não nos permite distinguir com tanta facilidade as<br />
208 Vide Vol. II, Anexo II, Fig. 14.<br />
209 Cf. KRAUS, Henry and Dorothy, The Gothic Choirstalls of Spain, p. 165.<br />
210 Cf. KRAUS, Henry and Dorothy, The Gothic Choirstalls of Spain, p. 165.<br />
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