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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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1. As Artes ao serviço do Poder: estratégias artísticas de D. Manuel I<br />

O envolvimento determinante de D. Manuel nos investimentos artísticos que,<br />

<strong>entre</strong> os finais do século XV e os alvores do século XVI se intensificaram ao ponto de<br />

passarem a representar para a posteridade as marcas tangíveis e inequívocas do reinado<br />

do Venturoso, é sobejamente conhecido. Independentemente das cautelas a que nos<br />

obriga o romantismo novecentista, com toda a carga enfática posta na descoberta de um<br />

estilo nacional, é inegável que tanto para a historiografia artística quanto para a própria<br />

História, o vocabulário artístico que actualmente reconhecemos como manuelino,<br />

apresenta uma série de caracteres específicos que facilmente se remetem para o reinado<br />

em questão, assumindo mesmo o carácter de uma arte régia que, sistematicamente<br />

emulada por parte do restante mecenato laico e religioso, acaba por se expandir por todo<br />

o país e um pouco por todos os domínios artísticos.<br />

Se pensarmos apenas na identificação destes caracteres e nos esquemas em que<br />

se articula este vocabulário, o manuelino mais não será do que uma forma de expressão<br />

terminal da linguagem gótica, que por toda a Europa caminhava a passos largos em<br />

direcção a um naturalismo exuberante. No entanto, se nos debruçarmos sobre questões<br />

menos materiais, ou menos palpáveis, como aquelas que se remetem para as esferas da<br />

intencionalidade, das dinâmicas de encomenda e produção da obra de arte, da acção<br />

inexorável de influências externas ou mesmo da procura premeditada das mesmas,<br />

estaremos então em terreno menos seguro e o que antes não passava de um<br />

acompanhamento natural das tendências artísticas dos restantes reinos europeus, passa a<br />

afigurar-se mais como uma “radical mutação estética – e até psicológica – que mais faz<br />

pensar numa deliberada opção centralizadora, visando inverter as tendências do gosto<br />

nacional” 52 .<br />

Esta inflexão estética, que se materializa fundamentalmente no investimento<br />

massivo em obras de arte ao modo da Flandres, numa altura em que o gosto<br />

italianizante havia já começado (e haveria de continuar, apesar de tudo) a marcar o seu<br />

lugar junto da elite cortesã, não será mais do que uma opção perfeitamente consciente,<br />

52 MOREIRA, Rafael. “Dois escultores alemães em Alcobaça: Machim Fernandes e João Alemão”, Arte e<br />

Arquitectura nas Abadias Cistercienses nos séculos XVI, XVII e XVIII, Colóquio 23-27 Novembro 1994,<br />

Mosteiro de Alcobaça, p. 94.<br />

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