Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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simplesmente, o cruzamento de dados faz com que ambas as hipóteses sejam possíveis.<br />
Em termos de adequação cronológica, a propostas de dois percursos profissionais<br />
alternativos – um contemplando apenas a actividade do Machim entalhador, outro<br />
contemplando a possibilidade de nessa actividade se terem incluído alguns trabalhos<br />
sobre pedra e, portanto, sobrepondo àquele os dados relativos aos do Machim lavrante<br />
de pedra – demonstram que não era impossível que ambos fossem da mesma pessoa.<br />
Não há sobreposições de datas, ou seja, ocasiões em que surpreendamos os dois artistas<br />
a trabalhar ao mesmo tempo em locais diferentes, o que descartaria quase de imediato a<br />
hipótese da identificação 147 . Não há também qualquer referência ou dado pessoal que<br />
inviabilize essa identificação e, ainda que a adjectivação de francês aposta ao Machim<br />
dos Jerónimos constitua uma nota dissonante na consistente atribuição de uma origem<br />
germânica, não podemos deixar de concordar com a já referida observação de Pedro<br />
Dias quanto aos equívocos e imprecisões frequentes neste tipo de documentos relativos<br />
à mão-de-obra empregada nas grandes campanhas artísticas quinhentistas. Também a<br />
relação estabelecida <strong>entre</strong> o Machim de Braga e dos Jerónimos e o mestre João de<br />
Castilho, em cujas campanhas o escultor nórdico se encontra incluído 148 , parece<br />
encontrar um eco imediato na presença de Machim Fernandes e João do Tojal em<br />
Alcobaça, para a realização do cadeiral que se incluía precisamente no conjunto de<br />
obras que decorriam sob a direcção do mesmo arquitecto – possíveis coincidências sem<br />
maiores implicações na confirmação ou negação da hipótese de que aqui nos ocupamos<br />
são, todavia, dados que não deixam de merecer a devida referência.<br />
Da mesma forma, o argumento que se baseia na impossibilidade de o mesmo<br />
artista trabalhar alternada mas sistematicamente dois tipos de materiais tão diferentes<br />
para justificar a negação da identificação de ambos os indivíduos, também não pode ser<br />
tomado como preponderante. Os escritos regulamentares proibiam, de facto, que<br />
qualquer indivíduo que fosse examinado em determinado ofício aceitasse trabalhos de<br />
uma natureza diversa (ainda que apenas ligeiramente) daqueles para os quais haviam<br />
sido preparados e avaliados e esta proibição ia mesmo ao ponto de se aplicar aos<br />
diversos tipos de trabalhadores da madeira 149 . Tudo o que transgredisse esta regra de<br />
147 Vide Vol. II, Anexo I, Cronologia do Trabalho de Machim, pp.3-5.<br />
148 Cf. DIAS, Pedro, A escultura de Coimbra do Gótico ao Maneirismo, p. 88.<br />
149 “Item ensambladores e entalhadores e imaginários e todo oficial que examinado não for de qualquer<br />
destes ofícios não poderá tomar nem fazer as obras abaixo declaradas e que se ao diante nomearem e se<br />
for examinado de algum dos ditos ofícios não usará mais que do que for examinado e a sua carta de<br />
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