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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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várias cadeiras, sem relação aparente, mas que, feitas as comparações (ao nível do tema<br />

e da própria factura) fazem todo o sentido juntas, o que nos leva a pensar novamente na<br />

possibilidade de uma troca do local original destes elementos, aquando da intervenção<br />

de Lorete ou posteriormente. Depois, a comparação destas três misericórdias<br />

especificamente revela, a nosso ver, um dado importante: a presença de, pelo menos,<br />

duas mãos diferentes. A diferença do tratamento dos animais <strong>entre</strong> as misericórdias que<br />

constituem este ciclo parece-nos demasiado evidente, sobretudo na modelação da<br />

raposa.<br />

1.1.3. Provérbios e Cultura Popular<br />

Outro sinal evidente da presença de motivos das culturas flamenga e germânica<br />

no cadeiral de Santa Cruz, é a representação do provérbio que, apesar de ligeiras<br />

variações, se pode traduzir no geral como “encontrar o cão na panela” 332 . Alguém que<br />

encontra o cão na panela (no pote ou no caldeiro, como se queira), chegou tarde demais<br />

para aproveitar uma oportunidade ou prevenir inconvenientes; foi descuidado e<br />

displicente e, por isso mesmo, sofreu com o oportunismo de outrem. O motivo, que é<br />

comum em tantos cadeirais alemães 333 , holandeses e belgas, surge também nos<br />

Provérbios Flamengos – onde, curiosamente, Brueghel pintou lado a lado os dois<br />

provérbios flamengos que encontramos no cadeiral (o cão com a cabeça no pote e o<br />

indeciso sentado <strong>entre</strong> duas cadeiras).<br />

Para Monsenhor Augusto Nunes Pereira, a misericórdia número 22, que se<br />

encontra nas cadeiras baixas do lado da Epístola, ilustraria porventura uma fábula,<br />

talvez envolvendo um cão ou um gato, utilizada pelo escultor tanto pelo carácter<br />

pitoresco da cena como para simbolizar o pecado da gula e a tentação do Demónio 334 . Já<br />

Maria Manuela Braga vê nela uma ilustração do “caldo entornado”, resultado das cenas<br />

de violência doméstica (baseadas numa idealização do mundo às avessas, com a mulher<br />

a castigar o marido por este chegar tarde a casa), e simplificação das mesmas. Muito<br />

embora os cadeirais germânicos e flamengos utilizem recorrentemente o episódio do<br />

cão individualizado, o cadeiral de coro do mosteiro de Beverley, contemporâneo do<br />

332 BOND, Francis, Wood Carvings in English Churches – Misericords, p.89.<br />

333 Vide Vol. II, Anexo II, Figs. 125 a 127.<br />

334 PEREIRA, Augusto Nunes, Do Cadeiral de Santa Cruz, p. 129 e 130<br />

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