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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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in society.” 35 Será esta, indubitavelmente, uma das chaves para a compreensão da<br />

dinâmica de transcendência e transgressão que enunciámos, por força da inteligibilidade<br />

de uma questão naturalmente complexa, como processos separados, aplicados a dois<br />

domínios – profano e sagrado – que só em aparência se separam e se opõem como que<br />

querendo anular-se mutuamente. Como todos os princípios que vivem uma relação<br />

antagónica ou binominal, bem e mal, virtude e pecado, sagrado e profano são<br />

concepções que se conferem um sentido mútuo, sendo a existência de uma a justificação<br />

da outra. No entanto, e ainda que apenas superficialmente, a oposição existe e é ela que<br />

confere uma dinâmica verdadeiramente particular ao desenvolvimento da iconografia<br />

dos cadeirais de coro e até mesmo à evolução do próprio coro no contexto da geografia<br />

dos espaços dentro do edifício religioso, numa conjugação de forças religiosas e laicas,<br />

também elas supostamente distintas, consubstanciadas nas iniciativas de reconstrução e<br />

reformulação de igrejas que se foram multiplicando um pouco por toda a Europa à<br />

medida que a eloquência do seu discurso arquitectónico ia sendo convocada pelas<br />

monarquias e pela própria Igreja, ambas interessadas na organização interna, na<br />

centralização de poder e numa afirmação de contornos absolutos.<br />

2. As novas opções para os espaços corais no Portugal de Quinhentos<br />

Não sendo o âmbito deste trabalho o estudo profundo da evolução dos espaços<br />

corais e do seu respectivo mobiliário em território nacional – abordagem que, aliás, teve<br />

a sua mais recente concretização no estudo de Maria Manuela Braga 36 –, não poderemos<br />

deixar de suspeitar que o cadeiral de coro, sob a forma básica em que o reconhecemos<br />

hoje, tenha sido uma criação estranha à Península Ibérica que, só após a entrada num<br />

período de relativa pacificação, com a crescente estabilidade de fronteiras que ia dando<br />

segurança às nacionalidades emergentes, tendeu a dotar os seus espaços religiosos com<br />

esses dispositivos de mobiliário mais complexos e elaborados, que alguns países<br />

europeus construíam já abundante e proficientemente.<br />

Só através desta tendência de importação de modelos e mão-de-obra estrangeiros<br />

– comum, de resto, aos restantes domínios artísticos, nomeadamente à arquitectura que,<br />

35 CAMILLE, Michael, Image on the Edge: the margins of Medieval Art, p. 29.<br />

36 Cf. BRAGA, Maria Manuela. Os Cadeirais de Coro em Portugal no Final da Idade Média, pp.23 a 86.<br />

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