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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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não tenha servido de inspiração às composições de edifícios e estratos de espaços<br />

urbanos incluídos no cadeiral de Santa Cruz. De resto, a própria presença de dois<br />

exemplares destas Crónicas de Nuremberga nos índices da biblioteca crúzia, reforçam<br />

esta possibilidade.<br />

A colocação da Crónica de Nuremberga no rasto da tradição medieva de<br />

apresentação da história da humanidade em seis idades principais, desde a criação do<br />

Homem até ao presente, numa fusão <strong>entre</strong> facto e fantasia, seria suficiente para justificar<br />

a sua inclusão no substrato de influências literárias e iconográficas do cadeiral de Santa<br />

Cruz. Mas muitos mais pontos jogam a favor da "identificação" de ambos, para além da<br />

proximidade cronológica, da circulação dos exemplares por Portugal e da sua presença<br />

em Santa Cruz, ou da partilha de uma origem geográfica comum com o autor do<br />

cadeiral. O(s) objecto(s) visado(s) por ambas as obras que, abarcando a história secular<br />

e religiosa, nas quais se fundem elementos factuais e fábulas, mitos ou lendas, revelam<br />

uma tendência historicista de reconhecimento da importância do momento presente, não<br />

deixando por isso de contar com a descrição e representação de eventos<br />

contemporâneos. Comuns a ambas a obras são também os seus personagens principais -<br />

reis, religiosos, filósofos e pensadores, profetas e sibilas - todos eles marcados, de<br />

formas diversas, por uma espécie de providencialismo muito ligado a ocorrências e<br />

determinações astrológicas, uma preocupação da época que vemos claramente<br />

exacerbada na retórica manuelina, e da qual a esfera armilar é uma imediata<br />

denunciadora.<br />

Significativa também é a frequente representação de cidades, com uma<br />

preocupação constante com o detalhe, embora nem sempre com a veracidade das<br />

descrições visuais. A grande maioria das cidades esculpidas no cadeiral de Coimbra não<br />

tem, de facto, correspondente real, funcionando como uma espécie de pastiche de vários<br />

elementos arquitectónicos que, isoladamente, conseguimos encontrar também em obras<br />

coevas, nomeadamente na gravura. Da mesma forma, a Crónica de Nuremberga<br />

apresenta-nos cidades totalmente idealizadas, sendo que, por exemplo, se utiliza o<br />

mesmo modelo para territórios tão distintos como Atenas, Pavia, Austria e Prussia.<br />

Apesar de tudo, a preocupação com o verismo das representações não estava ausente e,<br />

sempre que possível - sempre que o confronto visual directo era possível, ou sempre que<br />

a circulação de outras gravuras, tiradas do real, se ocasionava - representavam-se os<br />

espaços urbanos com rigor. Na Crónica de Nuremberga isto aconteceu, pelo menos, em<br />

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