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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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aseytamẽtos do diaboo, que se nõ pode esconder nẽ ẽcobrir da sua sabẽça.” 291 E no<br />

Auto das Fadas (1511), diz Gil Vicente que “Este animal se apacenta na mais aspera<br />

verdura por experimentar ventura.” 292 Não surpreende, portanto, que a cabra que tenta<br />

alcançar os ramos de um arbusto ou se debruce sobre as ervas se tenha tornado um<br />

motivo decorativo frequente, fazendo ecoar as iluminuras dos bestiários 293 sobre os<br />

mais variados suportes, nos mais variados locais. De facto, não temos de ir mais longe<br />

do que a Sé Velha de Coimbra para voltar a encontrar, na cercadura do retábulo de<br />

Olivier de Gand, a imagem do caprino que se empoleira em ramos de sinuosa<br />

folhagem 294 .<br />

Naturis Bestiarium – De avibus<br />

“As aves têm um só nome, mas uma grande variedade de espécies. Porque, tal como<br />

diferem no seu aspecto, diferem na sua natureza. Porque algumas são ingénuas, como<br />

as pombas; outras são ardilosas, como a perdiz; algumas vêm obedientemente à mão,<br />

como os falcões; outras evitam-na, como os garamantes…” 295<br />

Reiteradamente, o bestiário medieval fixou durante longos séculos as qualidades<br />

naturais e morais de animais reais e míticos, fazendo dos seus comportamentos e<br />

características intrínsecas exemplos a seguir ou a evitar pelos homens. É isso,<br />

precisamente, que se denuncia ao fazer corresponder a diversidade do aspecto das aves<br />

à diversidade da sua natureza no excerto supracitado, e é isso também que se pretende<br />

transmitir ao colocar aves como o corvo ou o melro, a coruja e o morcego (então<br />

considerado como pássaro) <strong>entre</strong> a marginalia do cadeiral de Santa Cruz.<br />

Ora, a primeira ave a surgir durante a inventariação dos motivos decorativos das<br />

misericórdias, com paralelo numa outra cadeira do lado da Epístola (M5 e M23) 296 , será<br />

291<br />

Horto do Esposo, apud cit. CHAVES, Maria Adelaide Godinho, Formas de Pensamento em Portugal<br />

no século XV, Lisboa, Livros Horizonte, [s.d.], p. 184.<br />

292<br />

VICENTE, Gil, “Auto das Fadas”, Colecção Clássicos Sá da Costa, vol. V, Lisboa, Ed. Marques<br />

Braga, 1944, pp.206-217.<br />

293<br />

Vide Vol. II, Anexo II, Figs. 103 e 104.<br />

294<br />

Vide Vol. II, Anexo II, Figs. 105 e 106.<br />

295<br />

Tradução da autora a partir da transcrição latina e versão inglesa do original: “Unum autem nomen<br />

avium sed genus \diversum. Nam sicut species sibi differunt, ita et nature \diversitate. Nam alie simplices<br />

sunt ut columbe, alie astute \ut perdix, alie ad manum se subiciunt ut accipitres, alie reformi\dant ut<br />

garamantes. ” in The Aberdeen Bestiary, fl. 25r<br />

(disponível online: http://www.abdn.ac.uk/bestiary/translat/25r.hti)<br />

296<br />

Vide Vol. II, Anexo II, Figs. 107 e 108.<br />

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