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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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de coros-altos de encomenda manuelina correspondeu sempre a situações de<br />

remodelação de igrejas em que já não era possível acomodar o conjunto dos religiosos<br />

na capela-mor, sendo esta a opção privilegiada para edifícios construídos de novo, como<br />

as sés da Guarda e do Funchal 45 .<br />

Embora a um nível de análise perfeitamente elementar pudéssemos juntar a esta<br />

análise argumentos de ordem prática e material, já que a possibilidade de poupar o<br />

esforço construtivo de um coro-alto poderia justificar a projecção de capelas-mores<br />

capazes de albergar os dispositivos corais, sabemos que a encomenda régia manuelina<br />

não se pautou propriamente por este tipo de comedimentos, pelo que teremos<br />

efectivamente de reconhecer nestas opções uma posição intermédia <strong>entre</strong> o contacto<br />

<strong>entre</strong> religiosos e leigos potenciado pelo coro no corpo da igreja, ainda que isolado por<br />

gradeamento, e a sua completa separação provocada pelo afastamento dos primeiros<br />

para um outro piso do edifício. Como é evidente, nenhuma destas opções foi exclusiva<br />

e, tanto no reinado de D. Manuel como nos que o antecederam e o sucederam, houve<br />

situações particulares de natureza vária; no entanto, a insistência com que ambas se<br />

praticaram, o contexto em que surgiram como soluções arquitectónicas e litúrgicas e, no<br />

caso da primeira, o seu carácter excepcional no contexto europeu 46 , fazem com que as<br />

opções de situar os coros na capela-mor ou transformá-los em coros-altos assumam<br />

particular importância enquanto testemunho de uma verdadeira demanda pelo<br />

reconhecimento e afirmação da monarquia portuguesa que actuava em várias frentes,<br />

estendendo a sua acção desde as mais simples igrejas conventuais até à própria corte<br />

papal.<br />

Em Santa Cruz de Coimbra, como ninguém poderá ignorar, os mesmos<br />

processos de manipulação do espaço religioso por parte dos mais importantes agentes<br />

do poder foram-se desenvolvendo sem cessar desde a sua fundação e, com maior vigor,<br />

desde a intervenção decisiva de D. Manuel I que, de tão intrusiva, acabou por marcar de<br />

forma física e concreta uma reformulação que se iria estender, logo no reinado seguinte,<br />

aos aspectos mais essenciais da própria instituição e da própria ordem dos Cónegos<br />

Regrantes de Santo Agostinho. No fundo, e porque a transformação das formas e dos<br />

espaços usufruídos nunca se afasta das metamorfoses do próprio pensamento, a<br />

45<br />

GOMES, Paulo Varela. In Choro Clerum. O Coro nas Sés Portuguesas dos Séculos XV e XVI, p. 40 e<br />

41.<br />

46<br />

GOMES, Paulo Varela. In Choro Clerum. O Coro nas Sés Portuguesas dos Séculos XV e XVI, pp. 51.<br />

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