Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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monarcas e pessoas reais na reformulação dos espaços corais das principais igrejas do<br />
país.<br />
Efectivamente, seguindo a linha de pensamento de Paulo Varela Gomes a<br />
respeito das transformações ocorridas nos espaços corais das sés portuguesas <strong>entre</strong> os<br />
séculos XV e XVI, compreendemos que eles foram instrumentos efectivos de uma<br />
estratégia deliberada de reforma e submissão da Igreja perante o poder régio iniciada<br />
com a dinastia de Avis e massivamente intensificada por D. Manuel I. 39 Acompanhando<br />
esse conjunto de transformações é-nos, de facto, possível surpreender um processo<br />
longo e concertado de organização do espaço arquitectónico-religioso em estreita<br />
dependência de desígnios doutrinais, intrínsecos à própria história da Igreja, mas<br />
sobretudo de desígnios políticos, ligados às dinâmicas de poder que se intensificavam<br />
com o aproximar do século XVI. E, significativamente, através do reconhecimento deste<br />
processo é-nos possível estabelecer um quadro contextual para as transformações<br />
operadas ao nível do espaço coral crúzio e, sobretudo, para a criação e subsequente<br />
transferência e transformação do cadeiral de coro ao qual se dedica este estudo.<br />
Nos séculos que antecederam o início deste processo de absorção e submissão<br />
do poder da Igreja por parte do poder régio, a localização natural do coro nas principais<br />
igrejas portuguesas era, por via de regra, a nave central, na imediata proximidade da<br />
capela-mor mas não no seu interior, preferência que partilhavam, aliás, com as igrejas<br />
espanholas e que foi largamente cultivada pelos Reis Católicos 40 . Esta situação comum,<br />
começou a sofrer as primeiras alterações precisamente durante o século XV, quando<br />
estes coros começam a ser substituídos por coros-altos, como aconteceu logo <strong>entre</strong> 1437<br />
e 1449 no Convento de Cristo em Tomar, que o Infante D. Henrique mandou dotar de<br />
um coro-alto, posteriormente reformulado por D. Manuel 41 , ou nas sés catedrais de<br />
Coimbra e Silves.<br />
Ora, se o exemplo de Tomar atesta esse esforço estratégico – que se inscreve<br />
sobretudo numa reforma da Igreja católica cujos principais agentes eram tanto os<br />
eclesiásticos de maior estatuto, quanto os monarcas e respectiva entourage burocrática –<br />
de accionamento dos “meios arquitectónicos necessários a assegurar uma separação<br />
39<br />
GOMES, Paulo Varela. In Choro Clerum. O Coro nas Sés Portuguesas dos Séculos XV e XVI, pp. 56 e<br />
57.<br />
40<br />
GOMES, Paulo Varela. In Choro Clerum. O Coro nas Sés Portuguesas dos Séculos XV e XVI, p. 33.<br />
41<br />
GOMES, Paulo Varela. In Choro Clerum. O Coro nas Sés Portuguesas dos Séculos XV e XVI, pp. 36 a<br />
39.<br />
26