Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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mais digno logar é o que fica na extremidade da direita, isto é, ao lado da Epistola, e<br />
depois seguem-se os outros por sua ordem em escala decrescente, até ao da<br />
extremidade da esquerda, que é o menos digno.” 11 Apesar de obedecer a uma espécie<br />
de ordem natural que ia, no caso de um meio monástico como o dos cónegos regrantes<br />
de Santo Agostinho, desde o prior-mor do mosteiro até aos simples cantores, a<br />
atribuição dos lugares no coro era frequentemente levada a cabo por um religioso<br />
especialmente designado para o efeito, o constabularius, ou seu equivalente 12 .<br />
Fosse qual fosse a forma de assinalar o lugar que cada um deveria ocupar, o<br />
facto é que esta era uma preocupação premente, que não tememos ver reflectida, vários<br />
séculos depois, nas palavras do já referido religioso António de Vasconcelos.<br />
Efectivamente, reconhecendo ainda que os contextos de cada época devem ser<br />
respeitados e o anacronismo evitado, como nocivo que é, sobretudo na hora de cruzar<br />
informações provindas de contextos epocais muito distintos, estamos convictos de poder<br />
ver nas constantes referências deste autor à ordem que deveria imperar num coro, onde<br />
cada um deveria ocupar o “logar que lhe pertence” 13 ou aguardar “cada qual no seu<br />
respectivo logar” 14 , procurando sempre respeitar as maiores dignidades, as marcas de<br />
uma permanência secular dos ritos corais.<br />
Como tudo, porém, tratar-se de uma permanência que não pode nem deve ser<br />
tomada em sentido absoluto e, servindo sobretudo como dado de reflexão e comparação,<br />
deve mesmo ser relativizada, já que a imensa longevidade dos ritos e regras religiosos<br />
não é sinónima de estagnação e cristalização dos mesmos. Como veremos no último<br />
ponto deste capítulo, o espaço coral não fugiu à regra de que as regras existem para<br />
serem quebradas e, pese embora toda a gravidade ritual das entradas e saídas do coro,<br />
quer em dias de maior solenidade quer em dias comuns, este não deixou de ser palco de<br />
algum relaxamento e mesmo algum desleixo na postura e no decoro devido aos<br />
oratores.<br />
11 VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de, Compendio de Liturgia Romana, p. 81.<br />
12 KRAUS, Henry and Dorothy, The Hidden World of Misericords, p. ix e 185.<br />
13 “Quando alguem entra no côro depois de ter começado o officio, ajoelha lo á entrada, e faz o signal da<br />
cruz e uma curta oração se porventura entra pela primeira vez; depois levanta-se, sauda a cruz do altar<br />
com genuflexão ou inclinação profunda, segundo fôr devido; sauda os dois lados do côro com a<br />
inclinação mediocre, começando pelo lado onde estiver o ecclesiastico de maior dignidade. […] Vai por<br />
fim para o seu logar, evitando quanto possível passar por deante d’alguma pessoa, que lhe seja<br />
superior em dignidade. Desde que esteja no logar que lhe pertence, conforma-se em tudo com o que faz<br />
o côro.” VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de, Compendio de Liturgia Romana, p. 136.<br />
14 VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de, Compendio de Liturgia Romana, pp.134-136.<br />
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