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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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permeabilidade técnica e artística à influência do círculo flamengo, cujo território<br />

ficava, afinal, tão próximo da região baixo-renana da qual poderá ter sido oriundo. A<br />

este respeito, e ainda que Rafael Moreira aponte, a par da Baixa Renânia, a Francónia<br />

como possível terra natal de Machim, não podemos deixar de considerar que o tom<br />

flamenguizante que perpassa o vocabulário iconográfico do cadeiral de Santa Cruz, ao<br />

qual se juntam, de facto, caracteres formais inegavelmente germânicos, nos leva a<br />

apostar com maior segurança numa formação – pois é sobretudo de nascimento<br />

profissional e artístico que falamos quando nos referimos à origem do mestre entalhador<br />

– levada a cabo em território muito próximo ao composto geográfico que constituía a<br />

Flandres. Daí que, incorrendo no risco de uma imprecisão justificada por uma<br />

sobreposição raramente coincidente de fronteiras geográficas e fronteiras artísticas, nos<br />

pareça tão legítimo referir o autor do cadeiral crúzio como mestre flamengo ou mestre<br />

germânico. Esta aleatoriedade parece, aliás, encontrar justificação na naturalidade com<br />

que se denunciava essa identificação, já nas primeiras décadas do século XVI, sendo a<br />

este título significativo o facto de o próprio filho de Rodrigo Alemán (e note-se o<br />

carácter explícito deste indicador de nacionalidade) ter declarado o pai como “flamenco<br />

e hidalgo” 114 .<br />

Em relação aos aspectos técnicos e formativos já referidos, aquilo que se pode<br />

inferir deriva sobretudo das próprias características do cadeiral de Santa Cruz e, ainda<br />

assim, mais do seu projecto (lido na materialidade da obra) do que da sua execução, que<br />

contou com o labor de várias mãos e não nos permite fazer uma súmula das<br />

características escultóricas de Mestre Machim enquanto entalhador ou imaginário. De<br />

qualquer forma, podemos calcular que ele tivesse tido uma formação bastante razoável<br />

ao nível do desenho, o que tanto implicava o correcto lançamento dos elementos<br />

figurativos correspondentes ao programa decorativo, como um domínio aceitável das<br />

bases do próprio desenho arquitectónico. Mesmo que o projecto do cadeiral de Santa<br />

Cruz tivesse tido uma elaboração prévia à arrematação da execução da obra, e fo por<br />

isso da autoria de outra pessoa que não o próprio Machim, a formação de um entalhador<br />

compreendia necessariamente o desenvolvimento do desenho, e da sua correcta leitura,<br />

como momento prévio à execução de qualquer tipo de obra 115 .<br />

114 KRAUS, Henry and Dorothy. The Gothic Choirstalls of Spain, p. 156.<br />

115 Cf. HASLUCK, Paul N. (ed.), Manual of Traditional Wood Carving, New York, Dover Publications,<br />

1977, p. 53.<br />

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