Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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sujeitar à mesma comparação que propomos para os cadeirais de Santa Cruz e Sé do<br />
Funchal, dado o lamentável desaparecimento do monumental conjunto de Alcobaça, não<br />
podemos deixar de concordar que a permanência de João do Tojal nessa localidade,<br />
documentada até 1536 136 , adensa a suspeita de que a parceria se tenha repetido na<br />
execução de mais uma das peças de ostentação de D. Manuel I . Embora a autoria deste<br />
cadeiral seja também por vezes atribuída a João Alemão 137 , o seu envolvimento nas<br />
obras de Santa Cruz até pelo menos 1522, bem como o facto de a sua presença em<br />
Alcobaça estar documentada apenas a partir da década de trinta, parecem afastar a<br />
hipótese de uma autoria e de um acompanhamento a tempo inteiro, apesar de não a<br />
inviabilizarem.<br />
Obra particularmente exigente, quer do ponto de vista da preparação, como da<br />
concepção do projecto e da sua bem sucedida execução, este cadeiral, composto por<br />
cento e cinquenta cadeiras divididas em duas filas dispostas, sem qualquer apoio<br />
parietal, no espaço da nave central, reclamava uma equipa eficiente dirigida por um<br />
mestre (porventura até mais do que um) de méritos reconhecidos e larga experiência.<br />
Efectivamente, este verdadeiro capricho régio, devia substituir um cadeiral pré-<br />
existente, também ele de grandes dimensões (segundo D. Francisco da Fonseca, oitenta<br />
e três cadeiras em muito bom estado 138 ) mas certamente já pouco de acordo com as<br />
opções estéticas de D. Manuel. Oficialmente iniciado em 1519, segundo indica uma<br />
carta de D. Manuel I datada de 7 de Julho de 1519 onde este ordenava “que loguo se<br />
faça a obra da carpentaria das cadeiras do coro” 139 , assim considerada prioritária para<br />
a comunidade religiosa e, sobretudo, para o reforço da eficácia propagandística das<br />
obras régias, um cadeiral de semelhantes dimensões exigiria um tempo de preparação<br />
136 Num documento de 1536 dá-se conta do envolvimento de “yoam do tojall carpinteiro e mestre de toda<br />
a obra de carpentaria” numa série de obras de acabamento e reparações no Mosteiro de Alcobaça, bem<br />
como na avaliação das obras das grades e retábulo da sacristia velha executadas por um outro “mestre<br />
yoam”, provavelmente João Alemão, cuja actividade no mosteiro surge seguramente documentada<br />
durante os dois anos seguintes. Cf. GOMES, Saul António, Visitações a Mosteiros Cistercienses em<br />
Portugal. Séculos XV e XVI, pp. 93-95.<br />
137 Cf. GRILO, Fernando. “A escultura em madeira de influência flamenga em Portugal. Artistas e obras”,<br />
O Brilho do Norte: escultura e escultores do Norte da Europa em Portugal. Época Manuelina (catálogo),<br />
Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, p. 105 e 106.<br />
138 Numa carta datada de 1525 e dirigida ao secretário régio, a propósito de algumas questões referentes<br />
ao mosteiro, D. Francisco da Fonseca, bispo de Titópolis, referiu a existência prévia de “huum coro de<br />
lxxxiii cadeiras muito boom e sua alteza ho mandou desfazer e fazer outro de cento. L. cadeiras”.<br />
GOMES, Saul António, Visitações a Mosteiros Cistercienses em Portugal. Séculos XV e XVI, p. 85.<br />
139 GOMES, Saul António, Visitações a Mosteiros Cistercienses em Portugal. Séculos XV e XVI, p. 72.<br />
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