Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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propriamente ditas começassem imediatamente. Avaliando apenas as dimensões do<br />
cadeiral, que não deixam de se pautar por alguma modéstia, se comparadas com tantos<br />
outros exemplares europeus, bem como a sua já referida complexidade formal e<br />
decorativa, não apontaríamos o início da sua execução para antes de 1509. No entanto, o<br />
carácter pioneiro da obra – em termos de tipologia, de volume e de carácter de<br />
importação – em território nacional, ao qual se juntaria a direcção de um artista recém-<br />
chegado, provavelmente não muito experiente e ainda não completamente maturado do<br />
ponto de vista artístico, e ainda as dificuldades previsivelmente apresentadas pela<br />
completa renovação do espaço arquitectónico (recipiente inequívoco destes grandes<br />
dispositivos de marcenaria), terão constituído motivos mais do que suficientes para o<br />
prolongamento da duração dos trabalhos. Desta forma, não nos repugna admitir que,<br />
efectivamente, Machim estivesse por Coimbra desde 1507 ou 1508, já envolvido nos<br />
preparativos e no planeamento da obra.<br />
A segunda informação preponderante da obra diz respeito ao facto de o<br />
pagamento de Machim ficar a cargo de um recebedor que mais não é do que mestre<br />
Boytac. Apesar da já muito referida vacuidade deste texto em relação a dados relativos<br />
ao autor do cadeiral, a simples presença nominal destes dois artistas no mesmo<br />
documento, no contexto em que ocorre, permite-nos inferir, de forma mais ou menos<br />
superficial, acerca de alguns aspectos relacionados com estatuto e relações profissionais.<br />
O primeiro aspecto que se destaca, mesmo numa leitura transversal, é a<br />
diferença de tratamento, porventura sinal de uma profunda diferença de estatuto e<br />
consideração profissional, <strong>entre</strong> o arquitecto, quase sempre referido como mestre, e o<br />
marceneiro/entalhador, a cujo nome não é sequer aposto qualquer indicador de<br />
profissão, como habitualmente acontecia. Obviamente, esta aparente falta decorrerá da<br />
forma algo marginal como surgem as referências a Machim, num apontamento a um<br />
contrato principal, no entanto, a frequência com que, nesse curto espaço de texto, surge<br />
o seu nome não deixa de causar alguma estranheza pela falta de um título ou indicação<br />
de ofício mais precisa.<br />
Em segundo lugar, o facto de o pagamento final do seu trabalho (provavelmente<br />
a última de três prestações acordadas num contrato inicial que estipularia o primeiro<br />
pagamento para o início dos trabalhos e o segundo para metade da empreitada) estar<br />
adscrito a um recebedor que mais não é do que o próprio Mestre Boytac, não só vem<br />
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