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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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suposta inadequação do conteúdo da iconografia profana do cadeiral ao espaço e aos<br />

propósitos aos quais se destinava.<br />

Sem querer alcançar conclusões com um estudo apenas iniciado, não podemos<br />

deixar de esclarecer três pontos relativos a esta questão: o primeiro é que a marginalia<br />

do cadeiral crúzio não é, de forma alguma, das mais agressivas no que diz respeito a<br />

referências escatológicas e/ou sexuais, à crítica de costumes ou mesmo à sátira clerical;<br />

o segundo prende-se precisamente com o facto de existirem comportamentos que<br />

reclamavam uma reforma, o que não indica uma comunidade religiosa pautada por<br />

comportamentos desviantes mas também não nos permite assumi-la como exemplo de<br />

rectidão no cumprimento das premissas quotidianas da ordem, como fariam supor<br />

alguns relatos; por fim, na convergência destes dois pontos, é possível assumir um certo<br />

tom de moderação na relação acima enunciada, <strong>entre</strong> iconografia profana e espaço<br />

religioso, mas essa é uma questão que abordaremos mais adiante. Para além de tudo<br />

isto, a transferência do cadeiral para o coro, indica-nos duas coisas algo óbvias. Diz-nos,<br />

antes de mais, que o espaço do altar-mor já não seria suficiente para acolher todos os<br />

religiosos, mesmo estando eles divididos em dois grupos, que se revezavam para o<br />

canto dos Ofícios Divinos ao longo do dia 50 . E diz-nos também, que mesmo estando o<br />

altar-mor fisicamente separado do resto da igreja por uma gradaria, essa separação não<br />

seria suficiente para permitir o necessário isolamento dos cónegos e evitar o incómodo<br />

provocado pela afluência dos fiéis. Isto é, de alguma forma, comprovado pelo facto de,<br />

decorrendo já as actividades corais no coro-alto, surgirem reclamações acerca do<br />

barulho provocado pelas pessoas que circulavam por quase todo o espaço monástico,<br />

em dias de festa, impedindo os religiosos de se ouvirem a si próprios durante o canto 51 .<br />

Compreende-se, portanto, que numa época de transformação cultural e, sobretudo, de<br />

profunda reforma eclesiástica, o espaço do coro funcionasse como elemento estratégico<br />

de consolidação das alterações pretendidas, estando já disso consciente D. Manuel I.<br />

Se as estratégias políticas do monarca Venturoso se reflectiram na arte por si<br />

patrocinada e se o rasto desta influência se detecta, indubitavelmente, na criação do<br />

cadeiral crúzio e do espaço coral que o recebeu, novas dinâmicas se revelam no seu<br />

50 Cf. PINHO, Ernesto Gonçalves de, Santa Cruz de Coimbra, centro de actividade musical nos séculos<br />

XVI e XVII, Coimbra, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1981, pp. 23 e 24.<br />

51 “Deve porse cautella, hauendo outra função semilhante, na porta do coro, e Orgão, porq seencheo<br />

detal sorte, q senão houuia cantar na Igrª as vozes do Coro…”. Códice 1756 (BGUC) in PINHO, Ernesto<br />

Gonçalves de. Santa Cruz de Coimbra, centro de actividade musical nos séculos XVI e XVII, p.29.<br />

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