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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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porventura instituída ao nível das oficinas do círculo flamengo e germânico e<br />

inevitavelmente trazida para Portugal por um Mestre que aí fizera a sua aprendizagem,<br />

provavelmente nunca o saberemos. No entanto, não nos parece de todo inverosímil que<br />

ambas as explicações tenham tido a sua aplicação prática pois, se de facto a<br />

particularidade das misericórdias do cadeiral de Santa Cruz partiu de uma prática de<br />

treino oficinal, nada obsta a que esta mesma prática fosse acomodada a uma<br />

conveniência programática, que fazia das imagens esculpidas nos espaços marginais<br />

elementos verdadeiramente discursivos e eficazmente persuasivos na sua<br />

complementaridade.<br />

Se, do ponto de vista da execução - ou sob os seus aspectos estéticos - as<br />

misericórdias de Coimbra não são de uma qualidade superior, quando comparadas com<br />

milhares de exemplares coevos (e até anteriores) de misericórdias europeias, ou até<br />

mesmo quando comparadas com as misericórdias da Sé do Funchal, que revelam maior<br />

cuidado no desenho prévio e nos acabamentos, já do ponto de vista da composição - ou<br />

dos aspectos mais técnicos da execução - elas revelam uma complexidade quase inédita.<br />

De facto, a grande maioria das misericórdias, sejam elas flamengas, alemãs,<br />

francesas, inglesas, ou até mesmo espanholas, são elaboradas de modo a que a escultura<br />

ocupe todo o espaço da misericórdia, não se distinguindo na verdade o bloco de suporte<br />

da escultura e destacando-se apenas a moldura da consola na parte superior do assento.<br />

Em Coimbra o processo dificulta-se: as esculturas são como que apostas a uma<br />

misericórdia que é realmente aparente, com todo o seu corpo modulado, quase sempre,<br />

em três lóbulos bem definidos. Isto implica, obviamente, um acréscimo de cuidado na<br />

execução desta parte dos assentos, pois a vontade de deixar ambas as partes - a<br />

misericórdia propriamente dita e a escultura que a decora - perfeitamente definidas, faz<br />

com que a segunda adquira por vezes o carácter aproximado de uma escultura de vulto.<br />

Tudo isto se complica ainda mais se tomarmos em conta um pormenor que a<br />

grande maioria das misericórdias deste cadeiral nos oferece e que, até à data, não<br />

encontrámos de forma sistemática em nenhum outro conjunto coral: as marcas de<br />

ensamblagem que se apresentam ao um nível próximo dos contornos das esculturas e<br />

que denunciam a utilização de dois blocos de madeira distintos para a execução de cada<br />

assento. Sem blocos de madeira com espessura suficiente para permitir a elaboração do<br />

assento e da misericórdia em simultâneo, os entalhadores da equipa de Machim viram-<br />

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