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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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as uvas) e o corpo de Cristo (o fruto propriamente dito): a primeira, habitualmente<br />

personificada numa figura cega, iria à frente, de costas voltadas à verdade de ao<br />

sacrifício de Cristo; a segunda, olharia pelo cacho de uvas com a maior atenção,<br />

podendo representar ainda “os gentios que se unem a Cristo” 360 , mensagem bem<br />

significativa no contexto geral do cadeiral. Acontece que, a ter aplicação efectiva, esta<br />

lógica inverteu-se no coro de Santa Cruz pois, neste caso, o judeu (cuja identificação é<br />

sempre remetida, em primeiro lugar, para o barrete cónico) não vai à frente, mas sim<br />

atrás. O mesmo acontece, de resto, no cadeiral de Oviedo 361 , algo que Henry e Dorothy<br />

Kraus interpretaram como sendo uma inversão propositada, de claro sentido anti-semita,<br />

para associar a figura do judeu ao pequeno corvo que, nessa escultura, surge a tentar<br />

debicar o cacho de uvas 362 . Para o caso de Santa Cruz, Augusto Nunes Pereira oferece<br />

uma explicação igualmente satisfatória: “A Igreja adiantou-se à Sinagoga, levando<br />

Cristo ao mundo” 363 .<br />

1.1.5. Lutas de Opostos e Psicomaquias<br />

A utilização de imagens afrontados, em situação de confronto ou de simples<br />

oposição é frequente na marginalia do cadeiral crúzio, em misericórdias, esculturas dos<br />

painéis laterais e terminais e, mesmo de forma mais difusa, nos apoia-mãos.<br />

“A luta das paixões” simbolizada por dois animais em confronto (reminiscência<br />

românica) foi o que Monsenhor Nunes Pereira viu na misericórdia 19, que apresenta<br />

dois animais que mordem a cauda um ao outro 364 . Se a definição do animal mais<br />

pequeno, que surge em primeiro plano é quase inequívoca, tratando-se decerto de um<br />

pequeno vitelo, já a do focinho do animal que lhe agarra a cauda com a boca é um<br />

pouco mais suspeita – dai que tenha dado azo a semelhantes interpretações. De facto, e<br />

uma vez mais, o cadeiral do Funchal parece esclarecer-nos as dúvidas, com uma<br />

misericórdia idêntica à de Coimbra embora mais deteriorada. Novamente verificamos<br />

que o talhe dos animais do Funchal, de formas mais volumosas e mais definidas permite<br />

uma melhor percepção do tipo de criatura que o escultor pretendeu representar. As<br />

360<br />

PEREIRA, Augusto Nunes, Do Cadeiral de Santa Cruz, p.34 e 35.<br />

361<br />

Vide Anexos II, Fig. 148.<br />

362<br />

KRAUS, Henry and Dorothy, The Gothic Choirstalls of Spain, p.73.<br />

363<br />

PEREIRA, Augusto Nunes, Do Cadeiral de Santa Cruz, p.36.<br />

364<br />

PEREIRA, Augusto Nunes, Do Cadeiral de Santa Cruz, p.131 e 132.<br />

149

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