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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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assentado pelo “carpenteiro que fez a dicta obra” 169 , ou mesmo Jean d’Ypres, que<br />

embora sempre referido em parceria com Olivier de Gand, desempenhava uma função<br />

completamente diferente da sua. No caso da oficina reunida por Mestre Machim para os<br />

trabalhos em Santa Cruz, aplicar-se-á muito provavelmente a mesma lógica de<br />

distribuição dos diversos tipos de trabalho, consoante as etapas de corte e desbaste das<br />

peças, ensamblagem e talhe dos elementos decorativos, <strong>entre</strong> os oficiais e aprendizes<br />

que certamente a constituíam, numa espécie de especialização interna que seria<br />

necessariamente gerada pela ausência da especialização ao nível das oficinas de<br />

entalhadores e ensambladores que os regimentos de 1572 denunciam.<br />

No que diz respeito à composição da equipa de trabalho de Machim em Santa Cruz,<br />

e partindo do princípio que, tal como João Alemão e tantos outros artistas flamengos e<br />

germânicos antes e depois deles, a sua chegada a Portugal teria sido antecedida por uma<br />

passagem por território espanhol – que, segundo Rafael Moreira, permitia precisamente<br />

a aclimatação dos modos artísticos nórdicos ao ambiente ibérico, e por conseguinte a<br />

criação de uma arte hispano-flamenga que a encomenda portuguesa (manuelina) trataria<br />

ainda de filtrar uma vez mais, conferindo-lhe um tom luso-flamengo que melhor<br />

corresponderia aos planos gizados por D. Manuel 170 – é de crer que o escultor<br />

germânico não tivesse viajado sozinho, fazendo-se acompanhar, pelo menos, alguns<br />

auxiliares escolhidos por ele, pelo Mestre que o encaminhou para território nacional, ou<br />

por indicação do próprio monarca, cuja minúcia no tratamento dos assuntos artísticos 171<br />

torna perfeitamente verosímil uma escolha pessoal de grande parte da mão-de-obra<br />

envolvida nos trabalhos que patrocinava directa ou indirectamente.<br />

Estes auxiliares, por sua vez, deverão ter partilhado com Machim a origem<br />

germânica, ou muito provavelmente terem sido originários de território flamengo 172 , a<br />

avaliar pela frequência com que se incluíam nas equipas que trabalhavam nos cadeirais<br />

espanhóis e sobretudo, pela abundância de referências a um imaginário e a um fundo<br />

proverbial de raiz eminentemente flamenga presente nas esculturas do cadeiral de Santa<br />

Cruz. Obviamente, estas referências flamenguizantes, que a cada passo pautam a<br />

169 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p.2.<br />

170 Cf. MOREIRA, Rafael, “ Dois escultores alemães em Alcobaça…”, pp. 102 e 103.<br />

171 Cf. MOREIRA, Rafael, “ Dois escultores alemães em Alcobaça…”, p. 107.<br />

172 Da mesma forma, Olivier de Gand manteve na sua equipa dois flamengos, Pedro e Francisco de<br />

Antuérpia, que o terão acompanhado, pelo menos desde Toledo até Coimbra. Cf. MOREIRA, Rafael,<br />

“Dois escultores alemães em Alcobaça…”, p. 101.<br />

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