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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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da obra e maneira das que são feytas” 235 . Esta simples indicação revela-se mais densa<br />

do que à partida poderá parecer; em primeiro lugar porque o número de cadeiras<br />

contratadas e executadas não coincide, e em segundo lugar porque a leitura<br />

historiográfica da exigência final tem sido largamente exagerada. Em relação ao número<br />

de cadeiras, é ponto assente e obrigatoriamente pacífico que às catorze indicadas no<br />

contrato acabaram por se juntar mais duas, certamente por se ter chegado <strong>entre</strong>tanto ao<br />

entendimento de que assim se criaria um conjunto mais harmonioso, como sugeriu já<br />

Maria Manuela Braga. Já em relação ao seu aspecto, a interpretação comummente<br />

enunciada tem estendido a exigência de um respeito formal das cadeiras preexistentes a<br />

um respeito decorativo que em lado nenhum se refere, tomando por isso o resultado<br />

final do trabalho de Lorete como um exercício de auto-afirmação e, em última análise,<br />

como o reflexo da prevalência imposta de uma opção artística sobre outra 236 . De facto, a<br />

exigência aplica-se aos aspectos formais das novas cadeiras, que seguem realmente a<br />

estrutura das restantes, mas é óbvio que não se aplica à decoração. É absolutamente<br />

claro que a linguagem do primeiro momento do cadeiral (e note-se que os dois<br />

momentos distam apenas dezoito anos) era já estranha ao vocabulário criativo de Lorete<br />

e dos que com ele trabalhavam. Mesmo a partir do conteúdo do contrato, facilmente se<br />

depreende o trabalho de Lorete no cadeiral não resultou de um acto subversivo do artista<br />

perante a obrigação da cópia de modelos tardo-góticos, de cuja perpetuação se teria<br />

desobrigado. Efectivamente, após as recomendações quanto ao número e forma das<br />

cadeiras – que incluíam a repetição do formulário das cadeiras principais naquelas que<br />

houvessem de ficar nos cantos do dito coro, portanto a fechar as duas filas de cadeiras<br />

altas 237 - refere-se também a execução de “huma estamte Rica cõ seu pee oitauado e<br />

laurado de Romano e para çima chãa tambem fejta como cunpre para serujr em<br />

semelhamte coro e que digua cõ as obra das cadejras” 238 . Daqui se depreende,<br />

portanto, que a própria encomenda previa a presença desses elementos lavrados de<br />

Romano nas novas cadeiras, e outra coisa não se esperaria, aliás, de uma encomenda<br />

dirigida por Frei Brás de Braga. Ora, assim se esclarece, que o mestre francês não<br />

poderia ter-se furtado a repetir um estilo que nunca foi obrigado a seguir. Quanto à<br />

referida estante, não nos chegou qualquer vestígio dela mas se pudermos assumir que é<br />

235 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p. 24.<br />

236 Cf, DIAS, Pedro, O Brilho do Norte, p. 238.<br />

237 “E das oyto gramdes seram as duas que ham de vijr nos camtos do dyto coro da parte comtra o altar<br />

moor da sorte e bitolla das outras duas que estam asemtadas nos dous camtos da entrada da capella.”<br />

GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p. 24 e 25.<br />

238 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p. 25.<br />

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