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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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marginalia deste conjunto coral, não devem ser tidas como indício inequívoco da<br />

presença de mão-de-obra proveniente da Flandres, mas sim como mais um indicador a<br />

ter em conta, mesmo porque na época em questão, a relativa homogeneidade do fundo<br />

cultural popular europeu parece ter permitido uma absorção generalizada de provérbios,<br />

histórias e imagens provenientes do imaginário e oralidade flamengos. Talvez<br />

potenciada por essa autêntica diáspora de artistas oriundos do círculo flamengo, a<br />

influência da sua cultura oral e visual fez-se sentir um pouco por toda a Europa e de<br />

modo algum se deve crer que as referências contidas em obras como os Provérbios<br />

Flamengos de Brueghel fossem tidas como crípticas em países como Portugal e<br />

Espanha.<br />

Postas, contudo, em acção as estratégias artísticas de D. Manuel, era imperativo que<br />

as equipas de trabalho, mesmo as do primeiro ciclo de obras, começassem a adquirir de<br />

imediato um carácter misto, permitindo a aprendizagem das técnicas, o domínio das<br />

formas, a absorção das sensibilidades estéticas trazidas pelos artistas de além-Pirinéus<br />

por parte dos escultores nacionais, bem como a desejada aclimatação daqueles às<br />

particularidades locais. Assim sendo, a equipa de Machim, que não terá constituído<br />

excepção à regra, incluiria certamente alguma mão-de-obra local, previsivelmente<br />

empregada ao nível do trabalho de desbaste das peças ou da ensamblagem – tarefas,<br />

apesar de tudo, menos exigentes ou de mais fácil supervisão – ou a um nível inicial do<br />

trabalho escultórico, funcionando como formação de aprendizes – e, para isso, lá<br />

estariam os espaços menos nobres do cadeiral, tradicionalmente aptos a receber imagens<br />

de carácter mais despreocupado, quer do ponto de vista da temática, quer da execução.<br />

Quanto ao número de pessoas envolvidas, com maior permanência, nos trabalhos<br />

de execução de um cadeiral de coro com as dimensões e as características do que vemos<br />

hoje em Santa Cruz – o núcleo duro de uma equipa de trabalho que poderia implicar, em<br />

determinadas alturas, o recurso a mão-de-obra mais ou menos especializada, consoante<br />

os casos - cremos que não seria tão numeroso quanto à partida se possa supor. Ainda<br />

que alguns autores apontem, com razão, a dificuldade da avaliação deste tipo de dados,<br />

“não só pela profusão de artistas, mas também pelo carácter colectivo das obras” 173 ,<br />

admitimos a hipótese de que a oficina responsável pela elaboração do cadeiral crúzio –<br />

173 MACEDO, Francisco Pato de, “O retábulo-mor da Sé Velha de Coimbra”, DIAS, Pedro (coord.). O<br />

Brilho do Norte: escultura e escultores do Norte da Europa em Portugal. Época Manuelina (catálogo),<br />

Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997, p. 220.<br />

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