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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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A grande consideração em que este artista foi tomado pelo próprio Mosteiro, que<br />

está patente no aforamento de um chão na mais prestigiante rua da cidade 257 , não<br />

poderia, aliás, concorrer noutro sentido. Só um servidor de particular valia para a<br />

(ainda) poderosa comunidade crúzia poderia ser incluído nesse corpo de elite a quem se<br />

concedia o direito de ocupar a rua de Santa Sofia. De facto, em 1538, Francisco Lorete<br />

não só era já claramente designado por “mestre de carpentarja e obra de maçonaria” 258<br />

– a primeira vez que surge inequivocamente indicado como Mestre – como já se<br />

encontra em Coimbra há tempo suficiente para ser considerado morador da cidade. No<br />

documento de aforamento pode ler-se que “avemdo respejto ao dito ffrrancisco loreto<br />

ser serujdor do dito mosteiro elles [os padres de Santa Cruz reunidos em cabido] lhe<br />

aforauã como de fejto loguo aforarã huum chão sjtuado em a sua Rua de Sãta Sofia o<br />

quall tem de frõtarja ao lomguo da dita Rua em vão quatro braças e meia e de<br />

comprido atee o vallado sejs bralas e sete palmos e parte de huum cabo com outro chão<br />

que ho cõuento tem aforado para casas a bastiã da sjlua e da outra tãbem cõ chão para<br />

casas que hee aforado a ejtor fernãdez tabelliam das notas na dita çidade.” 259 Daqui se<br />

depreende, desde logo, que o próprio Mosteiro queria afirmar o prestígio da oferta:<br />

Francisco Lorete e a sua família passavam a ter a possibilidade de possuir uma<br />

habitação de dimensões consideráveis, com a fachada (elemento de reflexo estatutário e<br />

de poder económico) voltada à Rua da Sofia, cuja importância é escusado repetir, tendo<br />

como vizinhança imediata outros elementos do corpo de elite que gravitava em torno de<br />

Santa Cruz e que agora era progressivamente instalado na rua da Sofia, em paralelo com<br />

a proliferação de colégios. As implicações urbanísticas das exigências feitas pelos<br />

crúzios para a construção da habitação de Lorete são, de facto, bastante significativas<br />

para a percepção do estatuto do próprio Mestre e do meio social em que ele se inseria. O<br />

aforamento do terreno destinar-se-iam, então à construção de “huuas casas que tenha<br />

dous sobrados dalto do amdar da dita Rua para cima e toda ha fromtarja della fará de<br />

pedra e call e as Janellas portaes e fresas que fizer na dita ffronmtarja será todas de<br />

muj boa pedrarja bem laurada e asemtada” 260 e, uma vez construídas, as casas deviam<br />

manter-se em boas condições, bem aproveitadas e nunca arruinadas ou alienadas.<br />

Francisco Lorete teria de viver, portanto, uma situação económica suficientemente<br />

257 Cf. GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, pp.28-31.<br />

258 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p.29.<br />

259 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p.29.<br />

260 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p.29 e 30.<br />

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