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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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aquando da leitura ascendente do programa decorativo do cadeiral, onde a simbólica<br />

régia funciona como uma espécie de prelúdio à ilustração da missão imperialista de D.<br />

Manuel. Particularmente relevante para a compreensão da marca régia no cadeiral de<br />

Santa Cruz é o facto de a esfera armilar, em associação com a Cruz de Cristo e as armas<br />

de Portugal, funcionar como um “sinónimo de Evangelização do mundo que<br />

(historicamente) coube em parte aos portugueses, especialmente e assumidamente neste<br />

período” 394 . Assim se resume a razão fundamental da geografia da simbólica régia no<br />

cadeiral crúzio: sobre o signo do pecado e das forças negativas, contidas<br />

horizontalmente pela heráldica régia e cristológica, elevam-se os símbolos e os sinais da<br />

presença metafórica do rei na própria igreja e de ambos, unidos, em todo o mundo<br />

conhecido, representado logo no nível figurativo seguinte.<br />

Para além destes três elementos fundamentais, cujas implicações foram já<br />

profundamente estudadas e decifradas 395 , outros motivos decorativos presentes no<br />

cadeiral de coro de Santa Cruz podem ser entendidos como parte de uma simbólica<br />

régia sistematicamente posta em acção nos mais variados dispositivos artísticos. No<br />

friso do guarda pó, os enrolamentos vegetalistas em que se inscreve a sucessão de<br />

Cruzes de Cristo revelam apontamentos que vêm confirmar, uma vez mais, a teoria de<br />

variedade tipicamente manuelina: ao longo do friso de enrolamentos vegetalistas<br />

sucedem-se diversos tipos de folhagens, pontuados por delicadas vergônteas e cachos de<br />

uvas pendentes, pequenas bolotas, romãs maduras, alcachofras floridas, flores-de-lis 396 .<br />

A vinha, símbolo eucarístico por excelência, tornou-se durante o período<br />

construtivo manuelino um elemento fundamental da decoração de portais e estruturas<br />

retabulares, onde as suas potencialidades ornamentais e os interessantes efeitos visuais a<br />

remetiam frequentemente para o espaço de frisos e molduras, como acontece no próprio<br />

portal de entrada da igreja de Santa Cruz. Acerca do carvalho, teceu Paulo Pereira<br />

longas considerações, colocando-o em três níveis discursivos fundamentais – um<br />

relacionado com a profecia de Isaías, outro com a heráldica familiar de Júlio II e outro<br />

394 PEREIRA, Paulo, A Obra Silvestre e a Esfera do Rei, p. 97.<br />

395 Cf. ALVES, Ana Maria, Iconologia do Poder Real no Período Manuelino: à procura de uma<br />

linguagem perdida, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1985; PEREIRA, Paulo, A Obra<br />

Silvestre e a Esfera do Rei: Iconologia da Arquitectura Manuelina na Grande Estremadura, Coimbra,<br />

Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras, 1990; PEREIRA, Paulo, De Aurea Aetate: o Coro do<br />

Convento de Cristo em Tomar e a Simbólica Manuelina, Lisboa, Departamento de <strong>Estudo</strong>s, IPPAR, 2003;<br />

PEREIRA, Paulo, Enigmas. Lugares Mágicos de Portugal – Idades do Ouro, vol. III, [s.l.], Círculo de<br />

Leitores, 2004.<br />

396 Vide Vol. II, Anexo II, Figs. 169 a 173.<br />

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