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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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dignitários pontualmente presentes na igreja e nos ofícios, mas ao Abade que, “se<br />

sentava no coro da mão dereita, em o primeiro lugar”, referindo ainda a figura do prior<br />

claustral, que se sentava na última cadeira (sem especificar se do lado esquerdo ou<br />

direito) e que acumulava a função de mestre de noviços 88 . Acrescenta-se assim uma<br />

segunda figura de autoridade no seio da comunidade crúzia, pelo menos durante os seus<br />

primeiros séculos, já que, lendo nas constituições que “Ao Abbade ao entrar do choro e<br />

capitolo todos se levantavão” conclui “que mais era ser Dom Abbade que prior mor” 89 ,<br />

tecendo estas considerações como se de uma realidade já distante no da sua se tratasse,<br />

o que nos leva a supor que a ocupação da segunda cadeira principal já não estivesse<br />

adscrita à figura abacial quando o cadeiral quinhentista foi criado. A sua utilização<br />

como cadeira de honra, por assim dizer, destinada a receber os ilustres que estivessem<br />

de passagem pelo Mosteiro, faz, de resto, todo o sentido, quando se observa a<br />

frequência com que surgem louvores ao coro crúzio por parte destas altas personagens<br />

que iam conhecendo de perto a sua actividade 90 . Os ocupantes ocasionais desta cadeira<br />

terão sido, no entanto, as únicas presenças exteriores ao mosteiro autorizadas a tomar<br />

parte das actividades corais, a crer nas informações contidas na Crónica da Ordem dos<br />

cónegos Regrantes do Patriarca S. Agostinho, de D. Nicolau de Santa Maria, onde se<br />

diz “que nunca jà mais se admitirão a cantar naquelle coro ainda que fossem religiosos<br />

de outras ordens” 91<br />

Ainda no âmbito da actividade musical, que tinha como palco e cenário o<br />

próprio cadeiral, algumas interdições relativas ao canto profano surgidas no último<br />

quartel do século XVI 92 , deixam antever que o tipo de música cultivado em Santa Cruz<br />

há muito que não se encontrava no campo estritamente litúrgico e sacro. Longe de<br />

constituir um defeito, esta característica, que obviamente incomodou as investidas pós-<br />

tridentinas de depuração da vida religiosa e da própria liturgia, indica-nos hoje que os<br />

Cónegos Regrantes de Santa Cruz cultivaram um virtuosismo musical múltiplo nas suas<br />

manifestações e, sobretudo, que não se podem incluir no conjunto daquelas<br />

comunidades religiosa cuja afluência ao coro se pautava por um absentismo constante.<br />

Fosse por verdadeira devoção ou por simples deleite musical, a verdade é que os crúzios<br />

88 CRISTO, D. José de, Miscelaneo, B.P.M.P., Ms. 86.<br />

89 CRISTO, D. José de, Miscelaneo, B.P.M.P., Ms. 86.<br />

90 Deles são exemplo D. Jorge de Ataíde ou o Núncio Apostólico D. Próspero; Cf. PINHO, Ernesto<br />

Gonçalves de, Santa Cruz de Coimbra, centro de actividade musical nos séculos XVI e XVII, p.28.<br />

91 PINHO, Ernesto Gonçalves de, Santa Cruz de Coimbra, centro de actividade musical…, p.32.<br />

92 Cf. PINHO, Ernesto Gonçalves de, Santa Cruz de Coimbra, centro de actividade musical…, p.33.<br />

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