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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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O percurso de Machim <strong>entre</strong> Coimbra e Tomar esboça-se assim em torno de<br />

alguns pontos fundamentais: o envolvimento de um entalhador estrangeiro em trabalhos<br />

de grande prestígio, inclusivamente do círculo régio; a sua ascensão profissional e,<br />

previsivelmente, a sua maturação técnica; a sua assunção como Mestre consumado, que<br />

não só mantinha uma parceria continuada, sinal algo evidente do avolumar de trabalhos<br />

e da necessidade de auxiliares próximos mas, ainda assim subalternos, como também<br />

era chamado a avaliar o trabalho de outros, condição necessária para o pagamento das<br />

respectivas obras. No entanto, e dada a escassez de informação relativa ao trabalho<br />

destes artistas lígneos no geral, as informações passíveis de serem extraídas destes<br />

simples apontamentos de quitação de contas têm implicações mais vastas do que à<br />

partida se poderá esperar.<br />

Tendo em conta que o trabalho da madeira tem duas vertentes fundamentais, o<br />

mecânico e o artístico, e que este último é de longe o mais importante 129 , coloca-se uma<br />

dúvida talvez não preponderante, mas sem dúvida persistente, dependente, talvez, da<br />

dificuldade de destrinçar as próprias designações que na época se dava a estes mestres, e<br />

que se prende com uma possível especialização de Machim. Perante a escassez de obra<br />

atribuída não podemos, de facto, deixar de nos perguntar se o responsável pela<br />

construção do cadeiral crúzio se terá dedicado particularmente à criação de mobiliário<br />

coral – algo que não foi incomum na época - ou se este tipo de trabalho terá apenas<br />

correspondido a algumas situações pontuais, no âmbito de um conjunto de encomendas<br />

de carácter mais variado. Ainda, dentro desta problemática, poderíamos questionar se o<br />

seu envolvimento activo nas obras, algo que está para além da elaboração dos projectos<br />

e da direcção dos trabalhos, terá tido maior preponderância ao nível da criação das<br />

estruturas ou ao nível da decoração escultórica. A possibilidade de comparação do<br />

conjunto coral de Santa Cruz com outras obras seguramente atribuíveis à sua autoria<br />

permitir-nos-ia, talvez, um melhor discernimento destas questões, sobretudo se desse<br />

exercício comparativo resultasse a identificação de um traço autoral ao nível das opções<br />

decorativas e da execução escultórica, tal como acontece no caso de Olivier de Gand.<br />

Na falta dessa possibilidade, resta-nos uma comparação ainda mais indirecta, pelo que<br />

podemos, porventura, recorrer a alguns exemplos de criadores de cadeirais de coro,<br />

mais ou menos contemporâneos, cuja actividade está razoavelmente documentada.<br />

129 Cf. HASLUCK, Paul N. (ed.), Manual of Traditional Wood Carving, p. 60 e 61.<br />

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