Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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ainda com a Árvore Mnemónica cujos quatro ramos representam os quatro elementos,<br />
bem como as quatro partes do Universo 397 – na exploração do tema da Árvore de Jessé.<br />
Apesar da preponderância destas associações, a presença dos ramos de carvalho<br />
estilizados no friso do dossel do cadeiral crúzio deverá inscrever-se também numa longa<br />
tradição de utilização destes motivos como ornamento e, simultaneamente, como<br />
símbolo de fertilidade, abundância e também força e sabedoria, atributos provindos de<br />
um profundo legado indo-europeu 398 .<br />
A alcachofra, que frequentemente se confunde com o cardo, é um dos ingredientes<br />
da ementa decorativa manuelina. Símbolo de regeneração, perenidade e renovação<br />
cíclica, assumia também uma clara associação com a figura de Cristo ressuscitado 399 . Já<br />
a romã e a flor-de-lis, para além das óbvias qualidades ornamentais, tinham associações<br />
heráldicas de longa data, legitimadoras da sua presença frequente <strong>entre</strong> o vocabulário<br />
decorativo manuelino.<br />
1.3. Atlantes<br />
No entanto, a compreensão e a aceitação da diferença do Outro enquanto isso<br />
mesmo – diferença, sem qualquer aposição valorativa – vai-se fazendo lentamente no<br />
relativamente curto espaço de tempo dos Descobrimentos portugueses. Assim, embora a<br />
passagem de uma perspectiva antropológica etnocêntrica (que veio substituir a<br />
antropologia monstruosa já enunciada por Maria José Goulão 400 ) a uma etnologia<br />
positiva e universal, que implica a “aceitação da horizontal diferença humana” 401 , seja<br />
um facto relativamente consensual, a caracterização do Outro e até mesmo a sua<br />
designação vai sofrendo oscilações que dependem, obviamente, das especificidades de<br />
cada caso: da natureza mais ou menos pacífica dos primeiros contactos, dos sistemas<br />
sociais e culturais mais ou menos aceitáveis de cada povo contactado e, sobretudo, dos<br />
seus comportamentos religiosos, elemento-chave para o estabelecimento de distâncias<br />
397<br />
Cf. PEREIRA, Paulo, A Obra Silvestre e a Esfera do Rei, p.149 e 150.<br />
398<br />
CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain, Dicionário dos Símbolos, (tradução de Cristina<br />
Rodriguez e Artur Guerra), Lisboa, Editorial Teorema, 1994, p.165.<br />
399<br />
Cf. PEREIRA, Paulo, De Aurea Aetate: o Coro do Convento de Cristo em Tomar e a Simbólica<br />
Manuelina, p.28.<br />
400<br />
GOULÃO, Maria José, “Do Homem Selvagem ao Índio Brasileiro. A construção de uma nova imagem<br />
da humanidade na arte europeia de Quinhentos”, A Carta de Pero Vaz de Caminha. Documentos e<br />
ensaios sobre o achamento do Brasil, Rio de Janeiro, Xerox do Brasil, 2000, p.173.<br />
401<br />
BARRETO, Luís Filipe. Descobrimentos e Renascimento. Formas de ser e pensar nos séculos XV e<br />
XVI, INCM, Lisboa, 1983, p.60.<br />
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