Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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da sua função estrutural – de simples componente de suporte e estruturação de uma peça<br />
de mobiliário – veiculam mensagens visuais potenciadores de uma série de níveis de<br />
entendimento e de percepção simbólica. Desta forma, os painéis laterais e terminais do<br />
cadeiral crúzio vão revelando, através da sua própria iconografia, dinâmicas históricas<br />
particularmente interessantes. Sem que possamos esquecer que estamos perante uma<br />
obra global que é o resultado evidente de dois tipos de intervenção distintos, pautados<br />
pelas características de épocas diferentes, é necessário aplicar esta informação à análise<br />
de todos os seus elementos. Ao nível dos painéis que rematam os segmentos de<br />
cadeiras, esta observação é particularmente importante ao nível dos terminais, posto que<br />
metade dos que foram criados, durante a primeira campanha, para servirem de remate<br />
ao conjunto coral acabaram, por via da ampliação, por ser incluídos num conjunto<br />
maior, assumindo portanto a função de simples painéis laterais, que inicialmente não<br />
tinham – e perdendo, por conseguinte, a força discursiva de propaganda régia que<br />
originalmente possuíam.<br />
Ao servirem de barreiras efectivas do espaço dos assentos, delimitando as<br />
extremidades de cada fila de cadeiras e, neste caso específico, também a interrupção<br />
originada pelas escadas, estes painéis servem também como barreiras simbólicas dos<br />
mundos que se <strong>entre</strong>cruzam no espaço do cadeiral. Digamos que, tal como as entradas,<br />
portas ou portais adquiriram em quase todas as culturas um carácter de limbo, pela<br />
transposição de fronteiras <strong>entre</strong> domínios diferentes, normalmente o profano e o<br />
sagrado, também os espaços emoldurados por estes painéis separadores – que<br />
constituem efectivamente passagens, ora <strong>entre</strong> as cadeiras baixas e as altas ora de umas<br />
para as outras – assumem um carácter semelhante, acabando por acolher no seu espaço<br />
uma interessante convivência <strong>entre</strong> uma temática dominantemente religiosa e os furtivos<br />
apontamentos profanos que se acomodam nas suas margens. Não admira, portanto, que<br />
no cadeiral de crúzio eles surjam como os espaços expositivos por excelência de um<br />
discurso de exultação religiosa, do exemplo de Cristo e da sua Santa Cruz, que naquela<br />
casa particularmente se venerava, e régia, estando o rei investido dos poderes<br />
necessários para fazer prevalecer esse mesmo exemplo.<br />
Como rapidamente se depreenderá da observação dos painéis, ou da enunciação<br />
dos seus motivos decorativos aqui efectuada e apresentada em anexo, a sua decoração<br />
seguiu a fórmula habitual da apresentação das arma christi, referências cristológicas<br />
que, por via da heráldica, se aproximavam mais ainda ao discurso régio. Estes motivos,<br />
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