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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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mundo tumultuoso das misericórdias e dos apoia-mãos, se vão sucedendo as primeiras<br />

referências heráldicas, todas elas veiculadoras de uma mensagem de fé: fé no Rei (ou,<br />

de forma mais abstracta, no Reino), fé em Cristo, fé na Igreja. São estas as pistas<br />

definitivas para o caminho do bem e são estas, em última análise, as únicas<br />

possibilidades que os gentios possuem para se libertarem do peso que, metaforicamente,<br />

suportam. A submissão ao poder do rei (significativamente, do Emanuel) e a <strong>entre</strong>ga à<br />

fé cristã foram, de facto, as suas propostas de libertação.<br />

Nos níveis de exortação nacional encontra-se a simbólica régia, eficaz fabricadora<br />

de uma ilusão da omnipresença do monarca, e sobretudo através de uma miríade de<br />

perspectivas das paisagens urbanas fabricadas e/ou encontradas pelos portugueses em<br />

consequência das suas empresas marítimas. Ora defendendo-se do inimigo muçulmano,<br />

ora aportando em novas urbes, os portugueses sublimam-se pela conquista, assumida<br />

nas suas múltiplas possibilidades e não apenas nas mais literais. A mais importante<br />

destas conquistas, anunciada já pela presença cadenciada da Cruz de Cristo, é então a<br />

expansão da fé cristã, oferta de salvação ao mundo recém-descoberto.<br />

O que nos é sugerido, de facto, é que nenhum homem é invulnerável aos ardis do<br />

mal, venham eles sob a forma de comportamentos viciados, dos defeitos do corpo e da<br />

alma que o levam a sucumbir à tentação, da perpetração dos pecados capitais, da heresia<br />

ou da falta de fé. Mas, do mesmo modo, nenhum homem está, à partida, condenado a<br />

cair em desgraça, dependendo a sua salvação, em primeiro lugar, de si próprio e do seu<br />

empenho em corrigir-se e melhorar-se; em segundo lugar, da mediação <strong>entre</strong> ele e o<br />

Divino, levada a cabo pela elite religiosa, através do louvor e da oração, no próprio<br />

espaço coral e, em última análise, da resposta desse mesmo Divino à performance de<br />

ambos.<br />

Aposta a esta mensagem de criação encontra-se uma mensagem de recriação,<br />

reveladora de novas dinâmicas estéticas, em primeiro lugar, mas também culturais,<br />

mentais e religiosas. Efectivamente, “A par de um desejo profundo pela ordenação e<br />

controle das forças do cosmos no empenhamento dirigido do processo cognitivo,<br />

desenvolve-se a paixão pelo obscuro, pelo hermético, pelo sempre distante ao poder<br />

natural da razão humana.” 463 A mudança aqui enunciada, passível de se aplicar à<br />

passagem do grotesco ao grutesco tão claramente definida no cadeiral de Santa Cruz,<br />

463 CRAVEIRO, Maria de Lurdes, A Arquitectura “ao romano”, p.20.<br />

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