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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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até ao Mosteiro de Alcobaça, esboçou pela primeira vez uma identidade e um percurso<br />

profissional para o enigmático autor do cadeiral crúzio. Também Paulo Varela Gomes<br />

(2001), tratando a relevante questão da alteração da geografia do espaço coral dentro<br />

das igrejas episcopais portuguesas, estabeleceu um importantíssimo quadro contextual<br />

para a compreensão das dinâmicas arquitectónicas e religiosas que terão levado à<br />

transferência e transformação do cadeiral de Santa Cruz, quase duas décadas após a sua<br />

criação.<br />

Após este périplo pelos valiosos contributos da historiografia artística nacional e<br />

internacional, importa referir que, se a sua qualidade é geralmente muito significativa, já<br />

o seu número e extensão não acompanham a importância do objecto de estudo,<br />

enquanto obra de arte e enquanto documento histórico, ou retrato multifacetado do<br />

tempo e das sociedades e dos indivíduos. Enquanto obra de arte, os cadeirais de coro<br />

desse longo tempo a que se convencionou chamar Época Medieval, reúnem em si as<br />

valências dos vários domínios artísticos, desde a arquitectura, cujos princípios seguem<br />

de perto, à escultura, de que vive o seu dinamismo decorativo e ornamental, e até<br />

mesmo à pintura e ao douramento, que neles se incluem como revestimento<br />

enriquecedor. Enquanto documento, contam a sua própria história, frequentemente a dos<br />

seus encomendantes e utilizadores, por vezes a dos seus criadores, mas quase sempre a<br />

dos protagonistas do tempo que os gerou, desde os mais privilegiados pela estrutura da<br />

pirâmide social, até aos seus elementos de sustentação. Posto que, efectivamente, toda a<br />

arte é elitista, enquanto resultado e reflexo das vontades e características das classes<br />

possidentes, os cadeirais de coro medievais abrem-se à presença do popular, do<br />

quotidiano, do modesto, do trivial até, glosando e satirizando os hábitos e<br />

comportamentos das elites que, paradoxalmente, quase sempre os patrocinam.<br />

No caso de Santa Cruz de Coimbra, estamos perante uma situação muito particular e<br />

muito especial, que merece ser estudada com redobrada atenção, quando se trata de<br />

compreender o tipo de dinâmicas habitualmente estabelecidas <strong>entre</strong> o espaço coral, as<br />

actividades nele desenvolvidas e a iconografia a ele aplicada através dos cadeirais, bem<br />

como o tipo de forças que se encontram em acção no momento e no espaço em que se<br />

processa a encomenda de determinado exemplar. Foi isto que procurámos fazer,<br />

efectivamente, na primeira parte do nosso estudo, votada ao entendimento do coro como<br />

espaço de transcendência do terreno, do humano, do material, por via da sublimação dos<br />

sentimentos de pertença ao mundo potencializados pelo canto dos Ofícios Divinos, e<br />

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