Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...
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discursos vegetalista e grutesco da decoração ao romano. Essa mesma necessidade de<br />
articulação pautou, de resto, as escolhas dos motivos decorativos mais utilizados por<br />
Lorete, que aplicou profusamente a forma do grutesco, alado ou bípede, quase sempre<br />
inspirado no aspecto híbrido e serpentiforme da víbora – miscigenação de formas e<br />
elementos de tempos distintos, mas nitidamente próximos, que se detecta noutros<br />
exemplos, como nas margens dos fólios iluminados da Leitura Nova, onde podemos<br />
encontrar figuras tão inusitadas como uma destas víboras grutescas a tocar gaita-de-<br />
foles 243 .<br />
No que respeita a outros aspectos eminentemente práticos da obra, o contrato diz-<br />
nos que o pagamento acordado foi de setenta e dois mil reis, incluindo apenas o trabalho<br />
e não a matéria-prima, já que o Mosteiro fornecia as madeiras necessárias, e que seria<br />
saldado faseadamente, à medida que o próprio trabalho fosse avançando 244 . Em relação<br />
a outros pormenores de trabalho, o contrato relativo à obra seguinte poderá ajudar a<br />
esclarecer algumas questões.<br />
A 22 de Outubro de 1532, Francisco Lorete contrata a execução da caixa dos<br />
órgãos grandes de Santa Cruz – que já dez anos antes D. João III tinha como obra<br />
necessária, indicando inclusivamente um oficial da corte para avaliar as medidas<br />
necessárias para a criação destes 245 – tendo como fiador João de Ruão. Mais uma vez,<br />
surge com os indicativos de profissão e nacionalidade com que já havia sido referido em<br />
1531, embora surja agora especificado como oficial 246 , o que deixa alguma margem de<br />
dúvida quanto à possibilidade de possuir já a qualificação de mestre com que viria a<br />
surgir depois, ou se ainda se encontrava em processo de ascensão profissional.<br />
De qualquer forma, o facto de o desenho preparatório se encontrar assinado por Frei<br />
Brás de Braga e pelo próprio Francisco Lorete, como consta do contrato, assinala-o<br />
desde logo como artista experiente e creditado. Efectivamente, se o documento de 1532<br />
nos oferece uma descrição bastante minuciosa da decoração pretendida para a obra, não<br />
se pode conceber que, apenas na altura de firmar o contrato, fosse o executante posto<br />
243 Vide Vol. II, Anexo II, Figs. 43 e 44.<br />
244 “E jsto tudo se obrigou a fazer por preço e comtia de setenta e dous mjll rs. bramcos pello feitio e<br />
asemto somente por que ha madeira e acheguas necesarjas haa dita hobra será o m.ro obriguado a lhe<br />
dar. E o dito padre e vedor disseram que se obriguarã por sj e pellas Rendas do dito m.ro a lhe dar e<br />
paguar os ditos lxxlj rs aas paguas asi como elle for merecendo cõprindo elle o que djto he.” GARCIA,<br />
Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p. 25.<br />
245 Cf. GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p. 200.<br />
246 GARCIA, Prudêncio Quintino, Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra, p. 142.<br />
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