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Uma Epopeia entre o Sagrado e o Profano: - Estudo Geral ...

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32 ocasiões. No Cadeiral de Coimbra, apenas podemos especular, dada a dificuldade de<br />

confronto com representações gráficas coevas dos locais possivelmente visados na<br />

cimalha.<br />

Para além da relevância destas esculturas, em termos simbólicos mas também<br />

directamente arquitectónicos e urbanísticos, merecedora de um sistemático estudo<br />

comparativo e analítico que permita o seu esclarecimento cabal, painel a painel –<br />

esforço já iniciado por Maria Manuela Braga, como referimos – outras dinâmicas há que<br />

alimentam o seu dinamismo, o seu interesse artístico e a sua eloquência simbólica. Sob<br />

pena de alongar em demasia uma análise que já se apresenta longa, escolhemos um<br />

exemplo particular dessas mesmas dinâmicas, não como caso paradigmático ou<br />

conclusivo, mas como ligação a uma retórica de afirmação do poder régio e religioso de<br />

Portugal, em estreita ligação com o vizinho reino ibérico, sobre outros espaços, outros<br />

indivíduos e outros poderes.<br />

Por <strong>entre</strong> essa sucessão de cidades descobertas, pacificamente abordadas e até<br />

mesmo receptivas à presença das naus lusas, e cidades conquistadas, denunciadas pelas<br />

suas arquitecturas mouriscas, ou em processo de conquista, oferecendo ainda<br />

resistência, vão surgindo figuras de profetas e sibilas que seguram filactérios contendo<br />

indicações de acontecimentos futuros, alguns sob a forma astrónomos que perscrutam<br />

os céus em busca de indicações estelares, personagens do Antigo Testamento, como os<br />

reis David e Salomão, ou figuras de santos, que vão contribuindo para esclarecer o<br />

discurso dos quadros de talha vazada que intercalam.<br />

Um destes quadros apresenta-nos simplesmente uma embarcação que se<br />

aproxima ou se afasta daquilo que se poderá identificar como uma cidade, não pelo<br />

habitual amontoado de indicadores urbanísticos mas tão-somente pela presença de um<br />

edifício de particular aparato que se vislumbra no canto superior direito da composição.<br />

A embarcação, que assume aqui um protagonismo absoluto e, obviamente, premeditado,<br />

surge-nos sulcando as ondas de um mar sugestivamente encrespado, apresenta na vela<br />

principal três crescentes voltados para cima, e um crescente apenas em cada uma das<br />

duas velas menores. Ainda que o crescente seja um elemento heráldico bastante comum<br />

no armorial português da época, em casos tão comuns como as armas de Pinto, a sua<br />

presença neste quadro não poderá deixar de ser denunciadora da presença simbólica do<br />

Islão, introduzindo uma nota de claro distúrbio na aparente hegemonia nacional, e<br />

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