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madeira duplas, anunciando em voz alta: “Temos um convidado esta noite, Susanna. Por favor, peça<br />
para colocarem mais um lugar à mesa”.<br />
Então seria assim, pensou Bram. Ele jantaria. Usaria os talheres certos. Conversaria com Susanna a<br />
respeito de tópicos que não envolvessem as palavras “pele”, “lamber” ou “barril de pólvora”. Ele lhe<br />
agradeceria pela hospitalidade e pelos bons cuidados. Então beijaria sua mão e iria embora…<br />
E nunca mais encostaria nem sequer um dedo em Susanna Finch. Quanto a isso ele estava absoluta<br />
e irrevogavelmente decidido.<br />
Até entrar na sala de jantar...<br />
Bram parou de andar. Perdeu a visão periférica. Ele teve certeza de que desmaiaria, mas sua tontura<br />
não tinha nada que ver com o recente ferimento na cabeça ou com seu estado faminto. Tinha tudo a<br />
ver com ela.<br />
Tirando o horrível traje de banho e a calça masculina, ele ainda não a tinha visto usando nada que<br />
não fosse um de seus vestidos simples de musselina. Mas essa noite ela estava vestida para o jantar;<br />
um traje de seda violeta com brocado e pérolas. As taças de cristal sobre a mesa, para o vinho,<br />
absorviam a luz das velas e a transformavam em setas luminosas, disparando brilho em todas as<br />
direções, refletindo em cada pérola costurada no vestido, cada fita que segurava seu cabelo reluzente.<br />
Quando ela se curvou para alisar uma dobra na toalha de mesa, cachos cuidadosamente arrumados<br />
emolduraram seu rosto e acariciaram o declive pálido de seu pescoço.<br />
“Lorde Rycliff.” Endireitando-se, ela sorriu timidamente.<br />
Ele não conseguia falar. Ela estava…<br />
Linda, ele achou que deveria dizer, mas “linda” não era uma palavra forte o bastante. Tampouco<br />
serviam deslumbrante, impressionante ou irresistível – embora esta última chegasse mais próximo da<br />
realidade do que as outras.<br />
A aparência exterior de Susanna era apenas parte do encanto. O que mais atraia a Bram era o<br />
convite implícito em sua postura, em sua voz, em seus lindos olhos azuis. Parecia que ela esperava<br />
por ele. Não naquela noite, apenas, mas em todas as noites.<br />
Ela parecia ser seu lar.<br />
“Fico feliz em vê-lo acordado.”<br />
“Fica?”<br />
“Você trouxe meu pai para a mesa de jantar, passados apenas cinco minutos das oito. Nesta casa<br />
esse é um pequeno milagre.”<br />
Sir Lewis riu.<br />
“E agora que estou aqui, preciso pedir-lhes licença por um instante.” Ele ergueu as mãos marcadas<br />
pelo trabalho. “Vou me lavar para o jantar.”<br />
O pai de Susanna saiu da sala, e os dois ficaram ali, entreolhando-se.<br />
Ela pigarreou.<br />
“Está se sentindo bem?”<br />
“Não sei”, respondeu Bram. Era verdade. Ele não tinha certeza de nada naquele momento, a não ser<br />
pelo fato de que eram seus sapatos que o levavam adiante. Apesar de todas as suas resoluções castas e<br />
do respeito por Sir Lewis, Bram simplesmente não conseguia fazer outra coisa. O que quer que havia<br />
entre os dois, exigia sua lealdade de forma enérgica, visceral. Negar isso seria uma desonra.<br />
Ele a viu corar profundamente conforme se aproximou. Era um pouco reconfortante perceber que<br />
ele também a afetava. Bram levou sua mão até a dela, que descansava sobre a toalha adamascada.<br />
“Sem luvas esta noite?”, perguntou ele, deslizando seu polegar sobre a pele macia, tocando cada<br />
um dos dedos e o dorso delicado.<br />
Ela balançou a cabeça.<br />
“Fiquei o dia todo sem elas. Eu queria usar, mas acabava me esquecendo.”