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“Leite ou açúcar?”, perguntou Susanna, com um murmúrio abafado.<br />

Diabos! Ela estava lhe oferecendo chá. Mas o corpo dele reagiu como se ela estivesse nua à sua<br />

frente, equilibrando a leiteira em uma das mãos e o açucareiro na outra, e perguntando qual<br />

substância ele gostaria de lamber em sua pele nua.<br />

Os dois. Os dois, por favor.<br />

“Nada.” Controlando-se frente à tentação, Bram pegou a garrafa no bolso do casaco e acrescentou<br />

uma dose generosa de uísque à sua xícara fumegante. “O que está acontecendo aqui?”<br />

“Esta é nossa reunião semanal. Como lhe contei ontem, as mulheres de Spindle Cove têm uma<br />

programação. Às segundas, caminhadas pelo campo. Às terças, banho de mar. Nós passamos as<br />

quartas-feiras no jardim e…”<br />

“Sei, sei”, disse ele, coçando o rosto não barbeado. “Eu lembro da programação. Às quintas espero<br />

que você abrigue cordeiros órfãos.”<br />

Ela continuou, serena.<br />

“Além de nossas atividades em grupo, cada mulher segue seus próprios interesses. Arte, música,<br />

ciências, poesia. Aos sábados, nós comemoramos nossas realizações pessoais. Estas reuniões ajudam<br />

as moças a desenvolver autoconfiança antes que voltem à sociedade.”<br />

Bram não conseguia imaginar como a moça que tocava piano naquele momento podia ter pouca<br />

autoconfiança na sociedade. Ele próprio tinha pouca habilidade musical, mas sabia reconhecer o<br />

verdadeiro talento quando o ouvia. Aquela jovem extraía sons do instrumento, que ele não sabia que<br />

um piano poderia produzir; cascatas de risos e sinceros suspiros lamuriosos. E a garota era bonita,<br />

além de tudo. Observando-a de perfil, ele notou o volumoso cabelo castanho e as feições delicadas.<br />

Ela não era o tipo preferido de Bram, mas possuía certa beleza que nenhum homem poderia negar.<br />

E enquanto a garota tocava, Bram quase conseguiu controlar seu desejo por Susanna Finch. Apenas<br />

um gênio musical seria capaz disso.<br />

“Aquela é a Srta. Taylor”, sussurrou Susanna. “Ela é nossa professora de música.”<br />

Colin chegou, colocando uma travessa no centro da mesa e ajudando a diminuir o<br />

constrangimento.<br />

“Aí está”, disse ele. “Comida.”<br />

“Tem certeza?”, perguntou Bram, após observar o conteúdo da travessa, que estava repleta de<br />

doces pequeninos e de bolos minúsculos, cada um com uma cobertura de um tom pastel diferente.<br />

Rosetas e pérolas de açúcar enfeitavam aqueles bocados refinados.<br />

“Isto não é comida.” Bram pegou um bolo com cobertura lavanda, segurando-o entre polegar e<br />

indicador e o observou. “Isto é… enfeite comestível.”<br />

“É comestível, e isso é tudo que me importa.” Colin enfiou na boca um pedaço de bolo de<br />

sementes.<br />

“Ah, esses cor de lavanda são a especialidade do Sr. Fosbury.” Ela apontou o bolo na mão de Bram<br />

e pegou um igual para si. “São recheados com geleia de groselha que ele mesmo faz. Divino!”<br />

“Um senhor Fosbury fez isto?” Bram ergueu o bolo lavanda.<br />

“Claro! Faz uma geração que ele é o dono deste lugar. Antes era uma taverna.”<br />

Então aquele lugar tinha sido uma taverna com canecos de cerveja de verdade, era de se imaginar.<br />

E torta de rins, e bifes tão malpassados que podia-se ouvir o boi mugindo. O estômago de Bram<br />

soltou um ronco desesperado.<br />

“O que faz o dono de uma taverna começar a preparar bolos?” Ele passou os olhos pelo lugar, tão<br />

refinado e alegremente decorado. Na janela, cortinas de renda esvoaçavam, joviais, debochando dele<br />

e de seu docinho com cobertura lavanda.<br />

“As coisas mudam”, disse Susanna. “Depois que a pensão virou um refúgio de moças, a alteração<br />

na estratégia de negócio dele foi o mais lógico.”

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