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“Susanna!”<br />
Ela hesitou, mas não parou. Susanna entrou em um jardim quadrado delimitado por sebes por<br />
todos os lados, com treliças em todos os cantos. Bram a seguiu e fechou o portão atrás de si.<br />
Susanna ouviu o clique do fecho e se virou, sabendo que estava encurralada. Os olhos dela estavam<br />
arregalados de medo e de incredulidade. É claro que ela estava aterrorizada. Seu amado pai – seu<br />
genitor e único protetor por tantos anos – acabava de se revelar um maldito ambicioso, egoísta e<br />
insensível.<br />
“Escute”, disse Bram, erguendo as mãos para sinalizar paz. “Susanna, amor. Eu sei como você<br />
deve estar chateada, agora.”<br />
“Você não faz ideia.” Ela balançou a cabeça. “Não faz ideia.” Ela fechou as mãos em punhos, que<br />
depois apertou contra a barriga, como se tivesse medo de que se lançassem contra Bram.<br />
“Ajudaria se você batesse em algo? Pode bater em mim.” Aproximando-se dela, ele baixou os<br />
braços ao lado das pernas. “Tudo bem, amor. Dê o seu melhor.”<br />
Nem bem as palavras passaram por seus lábios e o soco dela atingiu sua barriga como uma<br />
marreta. Uma marreta com articulações pontudas. O golpe o atingiu antes que ele pudesse se<br />
preparar, tensionando os músculos do abdome para se defender.<br />
“Aff!” Ele levou a mão à barriga, dobrando-se. “Pelo amor de Deus, Susanna.”<br />
“Foi você que pediu!”, ela exclamou, defensiva, aninhando a mão que o havia socado junto ao<br />
peito e massageando as juntas. “Você me disse para eu dar meu melhor.”<br />
“Eu sei, eu sei.” Ele se endireitou, afastando a dor com um suspiro profundo. “É só que… seu<br />
melhor foi pior do que eu esperava.”<br />
“A esta altura você já deveria saber que sou cheia de surpresas.” Ela terminou de falar com um<br />
soluço profundo e afastou o braço, preparando mais um golpe.<br />
Dessa vez Bram o interceptou, agarrando facilmente o punho dela.<br />
“Espere um pouco.”<br />
“Não vou esperar nada.” Ela chutou a canela de Bram. A canela boa, por sorte. “Você estragou<br />
tudo. Estou furiosa com você.”<br />
“Comigo?” Ele se afastou, surpreso. Depois do modo insensível e nojento com que Sir Lewis<br />
acabava de tratá-la em casa, Susanna estava furiosa com ele?<br />
“Como você pode fazer isso comigo? Você me deu sua palavra. Você prometeu que não envolveria<br />
meu pai em nada disso.”<br />
“Eu não achei que o estava envolvendo, não do jeito que você está falando. Eu só concordei em<br />
demonstrar a nova invenção dele. Não é como se eu o tivesse colocado de uniforme.”<br />
“Mas você não vê que isso é muito pior?”<br />
“Não. Não consigo ver.” Ele pôs as mãos nos ombros dela e tentou acalmá-la com um carinho<br />
rápido. “Susanna, eu nunca quis enganar você, juro. E apesar do que penso de seu pai agora… até eu<br />
tenho que admitir, esse canhão é uma ideia brilhante. Ele tem que ser apresentado.”<br />
“O canhão é uma ideia brilhante, mas na prática não funciona. Você sabe quantos protótipos ele já<br />
fez? Quantos quase-desastres evitamos? O último explodiu, Bram. Praticamente no rosto dele. Papai<br />
sofreu um leve ataque do coração, ficou de cama por semanas. Ele me prometeu que interromperia as<br />
experiências, que enviaria seus projetos para que colegas os testassem.” Ela levou as costas da mão à<br />
boca. “Ele me prometeu.”<br />
“Bem, ele quebrou a promessa. Para nós dois.” Ele olhou enviesado para o bolso de seu colete,<br />
onde tinha enfiado o envelope. “Ele poderia ter me dado esse envelope semanas atrás, não percebe?<br />
Mas decidiu me usar enquanto podia. Esse evento para o qual estamos trabalhando tanto não tem nada<br />
a ver com o Duque de Tunbridge nem com a defesa da enseada. Tudo está relacionado ao gosto de<br />
seu pai pela glória. Todo o resto é apenas uma abertura para o espetáculo principal, o canhão novo.