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Capítulo Nove<br />

Quando voltou à sua cama, Susanna disse a si mesma que não precisava se preocupar com Lorde<br />

Rycliff. Eles haviam concordado em manter separados os homens das mulheres. Com um pouco de<br />

sorte, os dois estariam tão ocupados que mal se veriam até o Festival de Verão.<br />

Mas ela não tinha pensado na igreja...<br />

Logo na manhã seguinte, lá estava ele. Sentado do outro lado do corredor, a uma distância de um<br />

metro, talvez um metro e meio dela.<br />

E ele havia se barbeado.<br />

Aquele foi o primeiro detalhe em que ela reparou. Mas, de modo geral, ele estava esplêndido,<br />

resplandecente em seu uniforme de gala, banhado por uma luz dourada que entrava pelo lanternim no<br />

alto da nave. O galão e os botões de seu casaco brilhavam com tal esplendor, que olhar para eles<br />

quase doía.<br />

Os olhos de Bram encontraram os seus, do outro lado do corredor.<br />

Engolindo em seco, Susanna enterrou o nariz no missal e resolveu purificar seus pensamentos.<br />

Não funcionou... Durante toda a missa ela esteve atrasada para levantar ou sentar. Qualquer que fosse<br />

o tópico da homilia do Sr. Keane, ela não fazia a menor ideia do que se tratava.<br />

Ela não conseguia deixar de espiar na direção de Bram sempre que uma desculpa se apresentava –<br />

ainda que a desculpa fosse uma mosca imaginária passando diante dela, ou a necessidade repentina,<br />

irresistível, de esticar o pescoço. Claro que ela não era a única. Todas as outras paroquianas também<br />

o espiavam, mas Susanna tinha certeza de que ela era a única que ligava aqueles olhares breves e<br />

proibidos a memórias escandalosas.<br />

Aquelas mãos grandes, fortes, segurando o missal? Ontem elas passeavam por seu corpo com<br />

intenções ousadas, irreverentes.<br />

A mandíbula barbeada, tão bem definida e masculina? Ontem Susanna havia passado sua mão<br />

enluvada por ela.<br />

Aqueles lábios grandes e sensuais, que naquele momento murmuravam ao acompanhar a litania?<br />

Ontem a beijaram... Apaixonadamente... E soltaram seu nome em um suspiro quente e desejoso.<br />

Susanna. Linda Susanna.<br />

Quando chegou o momento da oração, ela fechou os olhos bem apertados.<br />

Que Deus me proteja. Livrai-me desta terrível aflição.<br />

Sem dúvida, ela havia contraído uma cepa virulenta de paixão.<br />

Por que ele, dentre todos os homens? Por que ela não podia desenvolver um carinho especial pelo<br />

vigário, como muitas das moças inocentes faziam? O Sr. Keane era jovem, falava bem e, além disso,<br />

era muito elegante. Se força bruta e calor eram o que a atraía, por que nunca ficou rodeando a forja<br />

do ferreiro?<br />

Susanna sabia a resposta, lá dentro dela. Esses outros homens nunca a desafiaram. Ainda que não<br />

tivessem mais nada em comum, ela e Bram possuíam temperamentos fortes, conflitantes. Filha de um<br />

armeiro, Susanna sabia que era necessária uma batida dura e firme da pederneira contra o metal para<br />

produzir tantas fagulhas daquele jeito.<br />

Quando a missa acabou, ela recolheu suas coisas e preparou-se para fugir para casa. Seu pai<br />

raramente aparecia na vila para ir à igreja, mas às vezes a acompanhava na refeição de domingo.

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