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“Descanse, Finn.” Bram passou a mão pelo cabelo do garoto. A culpa o consumia. Após todo<br />
aquele trabalho, ele não sabia como dizer aos moradores da vila que a tarefa havia sido inútil desde o<br />
começo. Apenas um exercício para o ego inchado de um tolo.<br />
Dois tolos, se Bram incluísse a si mesmo.<br />
Do lado de fora da forja, passos apressados se aproximaram.<br />
“Você não pode fazer isso”, era a voz de Thorne, rouca e baixa.<br />
“Posso, sim”, disse voz feminina, aproximando-se.<br />
“Droga, mulher. Eu disse que não.”<br />
“Bem, vamos ver o que Lorde Rycliff tem a dizer a respeito disso, que tal?”<br />
O par entrou na forja e Bram ficou de boca aberta.<br />
“Eu tentei detê-la”, disse Thorne, fazendo um gesto de contrariedade.<br />
Detê-la?<br />
Sim, claro. Ele a reconheceu facilmente pela marca de nascença bordô na testa. Mas fora isso, a<br />
Srta. Kate Taylor estava caracterizada como um garoto do tambor. Com sua pouca altura e a figura<br />
esguia, o uniforme da milícia cabia facilmente nela.<br />
“O que está fazendo?”, perguntou Bram. Ele fez um gesto indicando o casaco vermelho e a calça.<br />
“De quem é esse uniforme?”<br />
“Do Finn, é claro”, disse ela. “Serei ele, hoje. O senhor precisa de alguém para tocar o tambor, e<br />
eu sou a única pessoa que pode substituí-lo.”<br />
“Srta. Taylor, não posso lhe pedir que…”<br />
“O senhor não me pediu. Eu me ofereci.”<br />
Bram olhou para Thorne. O homem endureceu o rosto.<br />
“Não”, disse ele. “Você não pode permitir.”<br />
Havia mais de cinco anos que Thorne servia sob o comando de Bram. Ele vinha sendo não apenas<br />
seu braço direito, como também a perna direita, quando Bram precisou de uma. E nunca, nem uma só<br />
vez, naqueles cinco anos de treinamentos, marchas e combates, Thorne havia hesitado para obedecer<br />
a menor ordem de Bram. E certamente nunca ele mesmo tinha emitido uma ordem.<br />
Até aquele dia.<br />
“Estamos perdendo tempo aqui”, disse a Srta. Taylor, aproximando-se de Bram. “Temos apenas<br />
algumas horas para nos prepararmos para o exercício, e o senhor precisa me deixar participar. Ao<br />
contrário das outras moças, eu não tenho família, nem guardião. Spindle Cove é meu único lar, e eu<br />
quero ajudar da forma que puder. Não fiz isto à toa.”<br />
Com um gesto dramático, ela retirou seu chapéu alto preto para revelar o cabelo. Ou a falta dele. A<br />
jovem havia cortado suas madeixas castanhas à altura do colarinho, e às prendeu para trás imitando<br />
um corte masculino.<br />
“Meu Jesus Cristo”, murmurou Thorne. “O que você fez consigo mesma?”<br />
A Srta. Taylor tocou o lóbulo da orelha com a ponta do dedo e segurou corajosamente as lágrimas<br />
que assomaram aos seus olhos.<br />
“Vai crescer de novo. É só cabelo.”<br />
É só cabelo.<br />
Bram sentiu o coração apertar dentro de seu peito. Ela o lembrava muito de Susanna, naquele dia<br />
na praça, oferecendo seu lindo cabelo comprido para manter Finn e Rufus fora do corpo de<br />
voluntários. Se apenas ele a tivesse escutado...<br />
Onde estava ela? Bram começava a ficar desesperado para vê-la.<br />
“Lorde Rycliff”, disse a Srta. Taylor. “Há mais gente. Estão todos reunidos no Touro e Flor.”<br />
“Touro e Flor?”<br />
“A casa de chá”, explicou ela. “E taverna... Já que agora o estabelecimento é as duas coisas, o casal