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formação, para eu me tornar uma dama. Então ele me enviou para Norfolk, para eu ficar com<br />

parentes.”<br />

“E você ficou doente lá?”<br />

“Só tive saudade de casa, mas minhas primas não sabiam o que fazer comigo. Elas encararam<br />

como seu dever me deixar pronta para a sociedade, mas diziam que eu nunca me encaixaria. Eu era<br />

alta e sardenta, e meu cabelo causava-lhes arrepios. Para não falar do meu comportamento, que<br />

deixava muito a desejar. Eu era… difícil.”<br />

“Claro que era.”<br />

Ela sentiu uma pontada de mágoa com o comentário, que devia ter ficado muito evidente, pois ele<br />

rapidamente procurou se explicar.<br />

“Eu só quis dizer”, falou Bram, “que isso era perfeitamente natural. Você foi morar com pessoas<br />

que eram praticamente estranhas, e sua mãe havia acabado de morrer.”<br />

Ela anuiu.<br />

“Elas pensavam assim, no começo; mas, conforme as semanas passavam e meu comportamento<br />

não melhorava… elas pensaram que algo devia estar errado. Foi quando elas chamaram os médicos.”<br />

“Que fizeram sangrias em você.”<br />

“Para começar... Eles prescreveram uma variedade de tratamentos ao longo do tempo. Eu não reagi<br />

como eles esperavam. Eu sou um pouco obstinada.”<br />

“Acho que percebi isso.” Ele sorriu timidamente. O calor nos olhos dele deu a Susanna força para<br />

continuar.<br />

“Os médicos fizeram mais sangrias, encheram-me de eméticos e purgantes. Depois disso eu<br />

comecei a rejeitar comida e a me esconder em armários. Elas chamaram os médicos de novo e de<br />

novo. Quando os enfrentei, concluíram que eu sofria de histeria e intensificaram os tratamentos. Dois<br />

criados me seguravam enquanto o médico tirava mais sangue e me dava mais veneno. Eles me<br />

enrolavam em cobertores até eu ficar encharcada de suor, e depois me obrigavam a mergulhar em<br />

água gelada.”<br />

As lembranças dolorosas jorravam dela, mas não estava sendo tão difícil falar a respeito como<br />

imaginou que seria. Depois de tanto tempo, as palavras simplesmente saíam dela, como se…<br />

Oh, e agora vinha um pensamento irônico.<br />

Como se ela tivesse aberto uma veia.<br />

“Eles…” Susanna engoliu em seco. “Eles rasparam meu cabelo e aplicaram sanguessugas no meu<br />

escalpo.”<br />

“Oh, Deus.” O sentimento de culpa retorceu o rosto dele. “No outro dia, na praça, quando eu<br />

ameacei cortar seu cabelo…”<br />

“Não. Bram, por favor, não se sinta assim. Você não sabia. Como poderia saber?”<br />

Ele suspirou.<br />

“Conte-me tudo agora.”<br />

“Na verdade, já contei a pior parte. Foram tratamentos repulsivos, inúteis, um após o outro. No<br />

fim, fiquei tão enfraquecida por tudo isso que adoeci de verdade.”<br />

Com o rosto franzido, Bram alisou o cabelo dela. Seus olhos assumiram o tom de verde colérico<br />

dos mares tempestuosos.<br />

“Você parece estar revoltado.”<br />

“E estou.”<br />

Ela sentiu uma pontada no coração. Sério? Por que ele ligaria para as atribulações médicas de uma<br />

solteirona, que aconteceram tantos anos antes? Certamente ele tinha visto coisas muito piores na<br />

guerra, que haviam causado efeitos piores nele. Ainda assim, algo naquela expressão séria e belicosa<br />

dizia que ele se importava. Que se houvesse um meio humanamente possível, ele voltaria no tempo e

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