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Capítulo Vinte e Sete<br />

Bram passou a cavalgada de três horas até Brighton espumando de raiva justificada, sentindo-se<br />

um herói incompreendido, difamado.<br />

E passou o percurso de três horas de volta a Spindle Cove afogado em arrependimentos, sentindose<br />

um verdadeiro idiota.<br />

Daniels não estava ajudando.<br />

“Deixe-me ver se entendi”, disse o amigo, quando eles pararam para trocar de cavalos, na metade<br />

do caminho, “agora que consegui acordar um pouco.”<br />

Daniels andava de um lado para outro na área iluminada em frente aos estábulos, e passou a mão<br />

pelo cabelo preto e desalinhado.<br />

“O garoto teve o pé despedaçado na explosão de um canhão. Você tinha um ferreiro habilidoso e<br />

uma farmacêutica experiente, todos preparados para a amputação, mas você lhes disse para esperar<br />

umas oito ou nove horas para que você pudesse cavalgar como um louco até o Quartel de<br />

Brighton…” Ele fez um gesto para a direita. “Arrancar-me da cama quente e arrastar-me o caminho<br />

todo de volta…” Ele fez outro gesto, com a mesma mão, para a esquerda. “Para fazer o quê,<br />

exatamente? Atestar o óbito do garoto?”<br />

“Não. Você vai salvar a perna dele. Do mesmo jeito que salvou a minha.”<br />

“Bram.” Os olhos duros e cinzentos do cirurgião foram implacáveis. “Uma única bala passou<br />

através do seu joelho, em uma reta e limpa trajetória. Claro que ela rasgou seus ligamentos, mas pelo<br />

menos a bala deixou bordas que puderam ser costuradas. Ferimentos de artilharia pesada são como<br />

ataques de tubarão. Tudo que resta é carne moída. Você já esteve em combate. Eu não deveria precisar<br />

dizer isso para você.”<br />

Bram passou a mão pelo rosto, absorvendo a repreensão.<br />

“Fique quieto e monte logo.”<br />

Joshua Daniels e Susanna Finch eram duas das pessoas mais inteligentes que Bram conhecia. Se os<br />

dois concordavam em algo, isso garantia com toda certeza que Bram estava errado. Maldição. Se ele<br />

não tivesse partido com tanta pressa, provavelmente acabaria cedendo à razão. Mas ele enlouqueceu<br />

com a ideia de ficar lá, só observando inutilmente, enquanto Finn era permanentemente mutilado.<br />

Susanna tinha razão; depois de sua própria luta para recuperar a força na perna, o acidente de Finn<br />

afetou sua objetividade.<br />

Mas Susanna era teimosa, Bram disse para si mesmo. Cabeça-dura e corajosa. Ela não o escutou<br />

quando não lhe foi conveniente, então por que começaria a escutar justamente naquela noite? Não<br />

importavam as ordens e ameaças sinistras que ele havia feito, com certeza Susanna não se curvaria a<br />

elas. Não se pusessem em perigo a vida de Finn. Mas, por outro lado, ele havia dito a Thorne que<br />

usasse os meios que julgasse necessários para evitar a amputação. E Thorne tinha alguns meios<br />

formidáveis e impiedosos em seu repertório.<br />

Jesus Cristo, o que ele havia feito?<br />

O dia estava raiando quando eles passaram pelo cume e conseguiram avistar Spindle Cove. Seu<br />

coração falseou com a visão. A vilazinha encantadora, aninhada em seu vale. As ruínas antigas do<br />

castelo, de sentinela no alto das falésias. A enseada, calma e azul, cravejada de barquinhos de pesca. A<br />

luz solar quente, derretendo-se sobre as colinas.

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