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Capítulo Vinte e Três<br />
Algumas noites mais tarde, Bram estava de guarda na mesma torre. Era uma noite nebulosa,<br />
escura, e não havia nada para se ver que não a névoa em movimento. Com tão pouco para ocupar<br />
seus pensamentos, ele mais uma vez se viu relembrando o último encontro com Susanna. Uma vez<br />
após a outra, a noite lhe trazia as palavras dela.<br />
Não posso ser abandonada novamente.<br />
Deus era testemunha de que ele não pretendia abandoná-la. Tudo o que ele queria era se casar com<br />
aquela mulher, para que, não importava a distância que a vida impusesse entre eles, sempre houvesse<br />
uma ligação conectando sua vida à dela.<br />
Ela precisava de um homem como ele. Um homem seguro de si o bastante para apreciar a<br />
inteligência dela, em vez de se sentir intimidado. Um homem corajoso o suficiente para desafiá-la,<br />
levá-la além dos limites que Susanna estabelecia para si mesma. Um homem forte o bastante para<br />
protegê-la, caso ela se aventurasse um pouco longe demais. Essas eram as coisas de que ela<br />
precisava, mesmo tendo se tornado uma mulher admirável.<br />
Mas, em algum lugar dentro daquela mulher, escondia-se uma garota ferida, desajeitada, assustada,<br />
que necessitava desesperadamente de algo mais: um homem que se acomodasse tranquilamente à sua<br />
vida segura e organizada, prometendo nunca, jamais deixá-la sozinha. Bram não conseguia acreditar<br />
que ele poderia – ou sequer deveria – ser esse homem para ela.<br />
Quando Thorne veio rendê-lo às duas da madrugada, hora de uma escuridão absoluta, Bram<br />
aceitou a tocha que seu cabo silenciosamente lhe oferecia e desceu pela escada em espiral. Mariposas<br />
tremularam ao seu redor, atraídas pela luz e pelo calor.<br />
Ele chegou ao pátio e examinou as fileiras organizadas de tendas. Os roncos e as eventuais tossidas<br />
evitavam que a noite ficasse quieta demais. O fantasma fofo de uma criatura se aproximou dele,<br />
emergindo das sombras.<br />
Bram olhou para o cordeiro.<br />
O cordeiro olhou para ele.<br />
Bram não resistiu, tirou um punhado de milho do bolso e jogou no chão.<br />
“Por que não posso comer você?”, perguntou, irritado, embora soubesse muito bem a resposta.<br />
“Porque ela lhe deu um nome, sua coisinha miserável. E agora arrumei um bicho de estimação.”<br />
Desde que ele havia chegado a Spindle Cove, Susanna esteve ocupada como uma aranha, tecendo<br />
pequenas teias de sentimento, ligando-o àquele lugar de maneira que ele não desejava ser ligado. Se<br />
não fosse embora logo, Bram começaria a se sentir aprisionado.<br />
Ele se aproximou da tenda que sabia ser a de Colin e pigarreou de leve. Algo se moveu lá dentro.<br />
Houve o ruído abafado de uma pancada e uma das hastes que fixava o tecido tremeu. Ótimo, ele<br />
estava acordado.<br />
“É Bram”, sussurrou ele. “Preciso falar com você a respeito da demonstração de artilharia.”<br />
Sem resposta. Nenhum outro movimento.<br />
Bram agachou-se e segurou a tocha perto da lona, sabendo que o brilho da luz alcançaria o<br />
interior.<br />
“Colin.” Ele cutucou a lona com o cotovelo. “Colin. Nós precisamos discutir a demonstração de<br />
artilharia. Sir Lewis tem um novo…”