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“Eu vou me casar com você”, disse ele.<br />

“Oh, Bram.” O rosto dela se retorceu em uma expressão de desânimo.<br />

“Não, não, não faça essa cara. Toda vez que eu a peço em casamento você faz essa cara triste,<br />

retorcida. Isso acaba com a autoconfiança de um homem.”<br />

“Eu poderia fazer uma cara diferente, mais agradável, se você tivesse planos de ficar. Não só de<br />

casar comigo antes de partir e continuar com o resto da sua vida.” Ela olhou para o mar aberto. “Há<br />

uma maldição estranha para quem reside em um local de férias. As amizades são muitas, mas breves.<br />

As mulheres ficam um ou dois meses, depois voltam para casa. Quando você está começando a<br />

gostar da pessoa, ela vai embora. Isso é suportável para uma amizade.” Ela o encarou. “Talvez até<br />

para um caso clandestino e escandaloso. Mas para um casamento?”<br />

“Não posso levar você comigo”, disse Bram. “A forma como você descreve sua vida aqui faz com<br />

que se pareça muito com a vida em campanha. Quando você está começando a gostar das pessoas,<br />

elas morrem.” Sua própria mãe tinha sido a primeira a partir, mas estava longe de ser a última. Ele<br />

nunca aceitaria colocar Susanna em risco.<br />

“Pode ser”, disse ela lentamente, passando os dedos provocativamente no cabelo da nuca de Bram.<br />

“Você e eu poderíamos ficar gostando muito um do outro. Você poderia prometer não ir embora. E<br />

eu prometeria não morrer. Não seria uma mudança boa para nós dois?”<br />

Ele suspirou.<br />

“Eu posso prometer voltar. Um dia.”<br />

“Da guerra? Bram, ninguém pode prometer isso. Eu gostaria de poder entender por que voltar a<br />

um comando de campo é tão importante para você. É só uma questão de provar que você pode?”<br />

“Em parte.”<br />

“Mas isso não é tudo.”<br />

Susanna olhou para ele, aqueles pacientes olhos azuis brilhando na noite. Se ele não conseguisse<br />

falar com ela, não conseguiria falar com ninguém.<br />

“É só que eu não tenho mais nada. Eu sou um oficial de infantaria, Susanna. É tudo que eu sempre<br />

fui, tudo que sempre quis ser desde garoto. Eu queria tanto, que parti de Cambridge no mês em que<br />

completei 21 anos. Foi quando eu finalmente tive acesso à pequena herança que meu avô me deixou,<br />

que usei para comprar meu primeiro comando. Meu pai fingiu ficar bravo, mas eu sei que em<br />

segredo ele estava feliz por eu ter conseguido tudo por minha conta. Eu nunca usei da influência dele.<br />

Cumpri com meu dever e fui subindo de patente. Eu o deixei orgulhoso. Quando a notícia da morte<br />

dele me alcançou…” Ele parou, sem saber como continuar.<br />

Sob a superfície da água, a mão dela encontrou a dele.<br />

“Sinto muito, Bram. Não consigo imaginar como deve ter sido horrível.”<br />

Susanna não conseguia imaginar, e ele não sabia como explicar. Bram pensou na última carta de<br />

seu pai. Ele a havia recebido através do correio normal, uma semana inteira depois de um<br />

comunicado expresso informá-lo da morte do general. O conteúdo da carta não era nada de<br />

extraordinário, mas Bram não conseguia esquecer do último parágrafo: Não tenha pressa de<br />

responder, seu pai escreveu. Eu sei que, ultimamente, você tem escrito muitas cartas.<br />

Era óbvio que seu pai sabia de Badajoz, onde as forças aliadas haviam tomado as tropas a um custo<br />

humano tão grande, que o próprio Wellington chorou diante da carnificina. Portanto, ele sabia que<br />

Bram estava escrevendo dezenas de cartas de condolências às famílias dos homens que caíram em<br />

batalha; tantas que tinha câimbras na mão e seu vocabulário secou ao mesmo tempo que o tinteiro.<br />

Não havia tantos sinônimos para “lamento”.<br />

Seu pai não lhe enviou palavras ocas de conforto, nem tentou encontrar motivo para aquelas<br />

mortes sem sentido. Ele simplesmente fez Bram saber que o compreendia.<br />

Bram não conseguia expressar o que significava saber que ele e o pai haviam alcançado um ponto

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