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“Não.” Seu próprio sorriso a surpreendeu. “De modo algum. Eu sei que as cicatrizes<br />
impressionam, mas, para falar a verdade, às vezes esqueço delas durante dias.”<br />
Enquanto falava aquelas palavras, Susanna ficou espantada por perceber como eram verdadeiras, e<br />
como se sentia mais leve por dizê-las. Parecia que seu caso com Bram tinha terminado. Fazia dias que<br />
ele não falava com ela. Nem enviava bilhetes. Ainda assim, ela estaria para sempre mudada pelo que<br />
eles tiveram. Mudada por ele. Bram havia lhe dado aquele presente precioso, a coragem de se aceitar<br />
como ela era. Cicatrizes, sardas, paixões e tudo o mais.<br />
Por falar nisso, será que um coração partido cicatrizava? Depois que uma década se passasse,<br />
conseguiria ela esquecer de Bram durante dias seguidos?<br />
De algum modo, ela duvidava.<br />
“Srta. Finch!” Violet Winterbottom apareceu à porta. “A Srta. Bright precisa de você no salão. Ela<br />
quer sua opinião a respeito da decoração.”<br />
“Estou indo.”<br />
Susanna passou para Charlotte os suprimentos para confecção de cartuchos, antes de lavar as mãos<br />
na bacia e sair da sala do café da manhã, deixando as luvas para trás.<br />
Ela passou pela sala de estar, onde os voluntários da milícia estavam em pé, parecendo um grupo<br />
de espantalhos, com braços esticados, enquanto mulheres com alfinetes na boca pregavam e<br />
costuravam, fazendo as últimas alterações em seus uniformes.<br />
Quando Susanna chegou ao salão, ela encontrou o local fervilhando. Na extremidade daquele<br />
aposento comprido, Kate Taylor praticava no piano. Ao longo da parede de janelas, o Sr. Fosbury e<br />
dois criados ocupavam-se de arrumar mesas para o serviço de bufê. Mulheres e empregados<br />
carregavam flores e móveis de um lado para outro, seus passos tamborilando no piso de madeira<br />
corrida. Na noite do dia seguinte, aquela cena seria uma demonstração de elegância – era o que ela<br />
esperava. Mas naquele momento era o retrato do caos.<br />
“Aqui”, chamou Sally Bright, para em seguida colocar um bebê que esperneava nos braços de<br />
Susanna. “Pegue a Daisy enquanto eu subo na escada. Temos algumas opções de festões.”<br />
Susanna esperou pacientemente no meio da sala, olhando para a balaustrada e balançando a irmã<br />
Bright mais nova no ritmo das escalas de Kate no piano. Daisy tinha crescido bastante nos últimos<br />
meses. Com o passar dos minutos, Susanna começou a achar que seus braços cairiam.<br />
“Ela adorou você, Srta. Finch!”, exclamou Sally, enquanto passava o tecido sobre o corrimão.<br />
“Veja, este é vermelho. Chama a atenção, mas não será demais, com todos os uniformes na sala?<br />
Depois temos este azul, mas é um pouco escuro para um evento noturno. Qual você acha que é<br />
melhor?”<br />
Susanna inclinou a cabeça, pensativa.<br />
“Concordo totalmente, Srta. Finch”, disse o Sr. Keane, aparecendo junto à Sally no balcão.<br />
“Nenhum dos dois vai servir. Precisamos de algo com mais brilho. Eu sugiro dourado.<br />
“Eu lhe disse, vigário”, falou Sally. “Não temos dourado suficiente.”<br />
“Tem razão. A menos que…” O vigário estalou os dedos. “Já sei. Vamos combiná-lo com o tule.”<br />
“O tule!”, exclamou Sally. “Isso foi inspiração divina. Espere um instante, Srta. Finch. Vou lhe<br />
mostrar o que ele está propondo.”<br />
Os dois desapareceram, abaixando-se para remexer nas caixas de materiais.<br />
Susanna suspirou, trocando Daisy de braço.<br />
“Aí está você. Eu a procurei por toda parte.” Bram apareceu repentinamente a seu lado.<br />
Pega de surpresa, ela passou o bebê de um braço para outro.<br />
“Procurou?”<br />
A não ser por alguns olhares trocados na praça, ela não o via fazia quase três dias. E, claro, ele<br />
tinha que aparecer perigosamente atraente, vestindo apenas uma camisa simples de colarinho aberto,