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Spindle Cove estava desmoronando.<br />
Após deixar Diana em segurança, descansando em sua cama, Susanna desceu as escadas até a sala<br />
de estar da Queen’s Ruby. Ali ela encontrou seu mundo se desfazendo. Reclamações e confissões<br />
pipocavam em todos os cantos da sala.<br />
“Oh, Deus. Oh, Deus.” Uma voz esganiçada elevava-se acima do ruído do leque. As asas de uma<br />
gaivota não fariam mais vento do que aquele leque. “Eu sinto um ataque de nervos chegando.”<br />
“Não consigo acreditar que bebi uísque”, lamentou-se outra. “E dancei com um pescador. Se meu<br />
tio souber disso, vai mandar me buscar e voltarei para casa em desgraça.”<br />
“Talvez eu deva ir lá para cima e começar a fazer as malas agora mesmo.”<br />
Então veio o comentário que gelou o sangue de Susanna.<br />
“Srta. Finch, o que aconteceu com seu vestido? Os botões estão todos tortos. E veja seu cabelo.”<br />
“Eu…” Susanna procurou manter a calma. “Acho que me vesti rápido demais.”<br />
“Mas você não estava assim em Summerfield”, disse Violet Winterbottom. “E eu achava que você<br />
chegaria à vila muito antes de mim, pois eu tive que descansar muito tempo antes de voltar, mas você<br />
não. Aconteceu algum acidente no caminho?”<br />
“Algo assim.” Enquanto se desmanchava em uma cadeira próxima, a consciência de Susanna a<br />
perturbava. Então ela percebeu o olhar curioso e penetrante de Kate Taylor. Depois o de Minerva.<br />
Todas voltaram-se para ela, todas as mulheres da sala. Encarando-a. Reparando nela. Para fazer<br />
conjecturas em seguida.<br />
Ela havia sido tão tola. O que fez com Bram foi… indescritível, e Susanna não conseguiria se<br />
arrepender daquilo. Mas fazer na praça da vila, onde havia uma boa chance de ser descoberta?<br />
Enquanto um verdadeiro pandemônio irrompia ali perto, colocando a vida de uma mulher em perigo.<br />
E Diana Highwood não foi a única a correr perigo. Mulheres como Kate e Minerva… Se Spindle<br />
Cove deixasse de ser um lugar respeitável, que chance elas teriam de ir atrás de seus talentos e de<br />
desfrutar da liberdade do pensamento independente?<br />
“Srta. Finch?”, chamou Kate em voz baixa, sentando-se a seu lado e pegando sua mão. “Você<br />
gostaria de nos contar alguma coisa? Qualquer coisa?”<br />
Susanna apertou a mão da amiga e passou os olhos pela sala. Ela não era uma pessoa rancorosa,<br />
claro que não. Mas naquele breve momento ela odiou o mundo. Odiou que todas aquelas mulheres<br />
inteligentes e não convencionais estivessem ali porque haviam sido levadas a pensar que havia algo<br />
de errado com elas. Que elas tiveram que fugir da sociedade para poderem ser elas mesmas. Susanna<br />
odiou que a menor revelação a respeito de seu comportamento naquela noite pudesse colocar em<br />
risco aquele porto seguro de todas elas. Supondo-se, claro, que aquele fiasco na taverna já não tivesse<br />
arruinado tudo.<br />
E, mais do que tudo, ela odiava não poder, estando ali sentada com suas amigas, confessar para<br />
elas que acabava de entregar sua virgindade ao homem mais forte, sensual e maravilhosamente<br />
carinhoso que existia. E que, por baixo de sua roupa amassada, ela continuava corada, molhada e…<br />
deliciosamente melecada devido aos carinhos de Bram. Que ela havia mudado por dentro e ainda<br />
estava se recuperando do prazer e da profundidade de tudo aquilo. Pequenos ecos de seu êxtase ainda<br />
beliscavam seu abdome, e seu coração transbordava de emoção. Será que elas sabiam as coisas<br />
malucas que um homem podia fazer com a língua?<br />
Era muito errado que o mundo a forçasse a ficar quieta, mas Susanna, havia tempos, resignou-se,<br />
pois sabia que não poderia mudar o mundo sozinha. No máximo, ela poderia proteger seu cantinho<br />
de mundo.