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Capítulo Dez<br />
Bram congelou, a pena pairando sobre o papel, e torceu para que seus ouvidos o estivessem<br />
enganando.<br />
“É F-I-N-C-H”, soletrou ela, prestativa. “Finch, como o pássaro.”<br />
Ele olhou para cima.<br />
“Susanna, que diabos está fazendo?”<br />
“Não sei quem é Susanna. Mas eu, Stuart James Finch, vou me alistar na sua milícia.”<br />
Ela não usava mais o vestido de musselina verde-folha que ele havia admirado na igreja. Em seu<br />
lugar, ela vestia um par de calças que lhe caíam surpreendentemente bem, uma camisa de algodão,<br />
fechada nos punhos, e um casaco azul-cobalto que, por mais estranho que parecesse, combinava<br />
lindamente com seus olhos.<br />
E luvas, claro. Luvas de homem. Que Deus não permitisse que a Srta. Finch aparecesse em público<br />
sem suas luvas. E ela continuou:<br />
“Minha data de nascimento é 5 de novembro de 1788. E essa é a verdade perante Deus, milorde.”<br />
O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo, e ela vestia roupas de homem, mas não havia<br />
nada nela que não fosse feminino. A voz, a postura… Céus, até seu perfume. Ela não conseguiria<br />
enganar um cego.<br />
Mas era claro que ela não pretendia enganar Bram. Aquela raposinha queria apenas marcar um<br />
ponto. E queria fazer isso na frente de dezenas de pessoas. A vila toda se reuniu ao redor deles,<br />
homens e mulheres, ansiosos para ver como aquela situação se resolveria. Todos se perguntavam:<br />
quem seria o vencedor?<br />
Ele venceria. Se ele deixasse que ela o vencesse, nunca conseguiria o respeito dos homens. E mais:<br />
não o mereceria.<br />
“Escreva meu nome”, pediu ela.<br />
“Você sabe que não vou escrever. Só homens podem se alistar.”<br />
“Bem, eu sou um homem”, disse Susanna.<br />
Ele a encarou.<br />
“O que foi?” A voz dela transbordava inocência fingida. “Você aceitou a palavra de Rufus e Finn.<br />
Por que não pode aceitar a minha?”<br />
Ele abaixou a voz e se inclinou para frente por sobre a mesa.<br />
“Porque neste caso tenho conhecimento em primeira mão que contradiz sua palavra. Você gostaria<br />
que eu contasse a toda essa gente exatamente como eu sei que você é uma mulher?”<br />
“Fique à vontade”, ela sussurrou por entre um sorriso forçado, “se preferir planejar um casamento<br />
em vez de uma milícia.” Ela olhou para os dois lados. “Em uma vila tão pequena como esta, cheia de<br />
mulheres, um anúncio desses com certeza incitaria um pânico matrimonial.”<br />
Eles ficaram se encarando por um longo instante.<br />
“Se você aceitar Finn e Rufus”, disse ela, “terá que me aceitar.”<br />
“Muito bem”, disse ele, molhando novamente a pena. Ele queria ver o quão longe ela iria com<br />
aquilo. “Stuart James Finch, nascido em 5 de novembro de 1788.” Ele virou a folha e empurrou na<br />
direção dela. “Assine aqui.”<br />
Ela pegou a pena com a mão enluvada e fez uma assinatura caprichada, finalizada com floreios.