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mesas de trabalho de diferentes tipos. Uma bancada de marceneiro, com plainas e um torno; uma<br />

estação de solda... Naquela noite, ele estava sentado à bancada de projetos, em meio a rolos de papel e<br />

restos de carvão de desenho.<br />

“Sou eu.”<br />

Ele não a convidou a entrar, e ela sabia que não devia entrar sem um convite explícito. Sempre foi<br />

assim, desde que ela era uma garotinha. Quando o pai estava concentrado, não podia ser<br />

interrompido; mas, se ele estivesse trabalhando em algo trivial, ou frustrado a ponto de lançar as<br />

mãos para cima, ele a convidava a entrar e a colocava sentada no joelho. Ela ficava ali com ele,<br />

então, maravilhada com os desenhos e cálculos confusos. Aquilo tudo era grego para ela. Na<br />

verdade, era mais complicado, pois em uma tarde chuvosa ela havia aprendido sozinha o alfabeto<br />

grego. Ainda assim, ela adorava ficar sentada com ele, debruçada sobre os projetos, sentindo-se parte<br />

de segredos misteriosos e da história militar enquanto esta era escrita.<br />

“Você precisa de algo?”, perguntou ele, e Susanna reconheceu o tom ausente de sua voz. Se ela<br />

precisasse conversar sobre algo importante, ele não a dispensaria, mas Sir Lewis não queria<br />

interromper seu trabalho por banalidades.<br />

“Não quero interrompê-lo, mas hoje vi Lorde Rycliff. Na vila... Nós conversamos.” E então eu o<br />

segui até o castelo, onde nossos lábios colidiram. Várias vezes...<br />

Deus. Ela não conseguia parar de pensar naquilo. O rosto barbado, os lábios fortes, as mãos firmes<br />

em seu corpo. O sabor dele... Susanna aprendia uma coisa nova todos os dias, mas aquela era a<br />

primeira vez que experimentava o gosto de uma pessoa. Aquele segredo a devorava por dentro, e ela<br />

não tinha para quem contá-lo. Nenhuma alma. Não tinha mãe nem irmã. A vila estava cheia de<br />

mulheres, cujas confissões ardentes Susanna ouvia inúmeras vezes; mas, se ela confiasse na pessoa<br />

errada e seu momento de fraqueza se tornasse de conhecimento público, todas aquelas moças seriam<br />

chamadas de volta a suas casas. Ela corria o risco de perder cada amiga que tinha.<br />

Ela bateu a cabeça de leve no batente da porta. Idiota, idiota!<br />

“Parece que os planos de Rycliff para a milícia já estão tomando forma. Achei que o senhor<br />

gostaria de saber.”<br />

“Ah.” Ele rasgou uma folha de papel no meio e puxou outra de uma pilha. “É bom saber disso.”<br />

“Como você o conheceu, papai?”<br />

“Quem, Bramwell?”<br />

Bram. Depois de um beijo desses você deve me chamar de Bram.<br />

Um arrepio percorreu seu corpo.<br />

“Isso.”<br />

“O pai dele foi meu colega de escola. Depois tornou-se general, muito condecorado. Viveu na<br />

Índia durante a maior parte de seu tempo no exército e morreu lá há não muito tempo.”<br />

Uma pontada de compaixão atingiu o coração de Suzanna. Será que Bram ainda estava de luto pelo<br />

pai?<br />

“Quando foi isso?”<br />

O pai ergueu a cabeça, apertando os olhos para enxergar uma distância imaginária.<br />

“Já deve fazer mais de um ano.”<br />

Não era tão recente, então. Mas a tristeza podia durar mais de um ano... Susanna detestou pensar<br />

durante quanto tempo choraria por seu pai, caso ele morresse inesperadamente.<br />

“O senhor conheceu a Sra. Bramwell?”<br />

Com um estilete, ele apontou o toco de lápis e recomeçou a escrever.<br />

“Encontrei-a algumas vezes, sendo que na última Victor ainda era criança. Então eles foram para a<br />

Índia, e isso foi o fim dela. Disenteria, eu acho.”<br />

“Céus. Que trágico.”

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