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otas – nada de casaco ou gravata. O tecido claro brilhava no ambiente escuro, delineando os<br />
contornos dos músculos das costas e dos braços. Susanna não era médica, mas conhecia bem a<br />
anatomia humana. Bem o bastante para reconhecer que belo espécime ele era. Sem o casaco<br />
impedindo a visão, por exemplo, ela podia perceber que seu traseiro era especialmente bem formado.<br />
Rígido, musculoso e…<br />
E completamente inadequado como objeto de sua atenção! O que estava acontecendo com ela?<br />
Susanna olhou para cima, dando-se um instante para se recompor, antes de chamar sua atenção. O<br />
cabelo de Bram era comprido, escuro e ele o prendia com uma tira de couro. As pontas chegavam até<br />
entre as escápulas, onde faziam uma curva para cima como um anzol, pronto para fisgá-la.<br />
“Lorde Rycliff?”, arriscou ela. Ele não se virou. Susanna inspirou fundo e tentou mais uma vez,<br />
colocando mais energia na voz. “Lorde…”<br />
“Eu sei que está aí, Srta. Finch.” A voz dele parecia calma e controlada, e ele permaneceu de costas<br />
para ela, debruçado sobre algo que Susanna não conseguia ver. “Tenha um pouco de paciência. Estou<br />
medindo pólvora.”<br />
Susanna deu um passo para dentro.<br />
“Agora sim”, murmurou ele, a voz grave e sedutora. “Isso... É assim...”<br />
Céus! A voz abafada e grossa possuía uma força persuasiva. Aquele som a desequilibrava,<br />
fazendo-a balançar entre os dedos do pé e os calcanhares. Ela deu um passo para trás e suas costas<br />
encontraram a parede de pedra antiga. A borda fria acalmou a pele entre as escápulas.<br />
“Bem, Srta. Finch, o que você quer?”, perguntou ele, sem se virar.<br />
Que pergunta perigosa...<br />
Ela percebeu que continuava encostada na parede. O orgulho fez com que desse dois passos à<br />
frente. Ao avançar, alguma coisa baliu para ela, como se a repreendesse pela invasão. Susanna parou<br />
e olhou para baixo.<br />
“Você sabia que tem um cordeiro aqui?”<br />
“Não tem importância. É só o jantar.”<br />
Susanna sorriu para a ovelha e a acariciou.<br />
“Olá, Jantar. Quem é a coisa mais fofa?”<br />
“Jantar não é o nome dele, é a… função que vai desempenhar.” Com uma promessa impaciente, ele<br />
se virou, limpando as mãos com um pano. Suas palmas estavam cobertas por um pó cor de carvão, e<br />
seus olhos, tão dilatados na escuridão fria, tinham um brilho preto como azeviche. “Se você precisa<br />
me dizer algo, diga. Caso contrário, pode ir.”<br />
Ela rosnou para si mesma. Ele era tão… tão homem. Falando docemente com suas armas, depois<br />
vociferando com ela. Sendo filha de quem era, Susanna compreendia que um homem podia parecer<br />
casado com seu trabalho, mas aquilo era ridículo.<br />
“Lorde Rycliff”, Susanna endireitou os ombros ao falar, “meu interesse é manter a harmonia na<br />
vila, e receio que não tenhamos começado bem.”<br />
“Mesmo assim” – ele cruzou os braços diante do peito – “aqui está você.”<br />
“Aqui estou eu... Porque não aceito ser tratada dessa forma, entende? E também não vou permitir<br />
que aterrorize minhas amigas. Apesar do constrangimento de nosso primeiro encontro, tenho tentado<br />
ser amigável. Você, por outro lado, tem se portado como um animal. A forma como falou comigo<br />
ontem à noite... O modo como se comportou na casa de chá... Agora mesmo, neste momento… Dá<br />
para dizer por seu tom de voz e por sua postura, que você quer parecer ameaçador, mas veja...” Ela<br />
apontou para a ovelha. “Nem mesmo Jantar está com medo. Eu também não estou.”<br />
“Então vocês são dois tolos. Eu poderia fazer uma refeição com os dois.”<br />
Ela balançou a cabeça e se aproximou dele.<br />
“Acho que não. Eu sei que você não esperava ter de morar aqui, mas as pessoas sempre vêm a