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E era encantador. Depois que o céu escureceu, um manto de estrelas apareceu acima das ruínas do<br />
castelo. Bram sabia que havia tomado a decisão certa ao recusar o convite para ficar em<br />
Summerfield. Todas as preocupações com dever e autocontrole à parte, ele nunca se sentiu à vontade<br />
dentro daquelas mansões formais inglesas. As vergas das portas eram muito baixas para ele, e as<br />
camas, muito pequenas. Aquelas casas não eram para ele, e ponto final.<br />
O campo aberto era onde ele se sentia bem. Bram não precisava de um lugar como Summerfield.<br />
Contudo, seu estômago vazio começava a argumentar que ele deveria, pelo menos, ter aceitado uma<br />
refeição à mesa de Sir Lewis.<br />
Um balido fraco chamou sua atenção para baixo. Um cordeiro estava a seu pé, fuçando a borla de<br />
sua bota.<br />
“Oh, veja”, disse alegremente Colin. “O jantar.”<br />
“De onde veio este bicho?”<br />
Thorne se aproximou.<br />
“Ele veio com a gente. Os condutores dizem que está fuçando as carroças desde as explosões.”<br />
Bram examinou a criatura. Devia ter se separado da mãe. Àquela altura do verão, ele já devia ter<br />
passado da idade de desmame. Também já tinha passado da idade de parecer bonitinho. O cordeiro<br />
olhou para ele e soltou outro balido queixoso.<br />
“Será que nós temos geleia de menta?”, perguntou Colin.<br />
“Não podemos comer este cordeiro”, disse Bram. “Este animal pertence a alguém da região, e essa<br />
pessoa vai sentir sua falta.”<br />
“Essa pessoa nunca irá saber.” Um sorriso carnívoro se espalhou pelo rosto do primo enquanto ele<br />
passava a mão pelo flanco lanoso do cordeiro. “Nós vamos destruir as provas.”<br />
Bram balançou a cabeça.<br />
“Não vai acontecer nada disso. Desista de suas fantasias de costeleta de cordeiro. A casa dele não<br />
pode estar longe. Vamos encontrá-la amanhã.”<br />
“Bem, nós temos que comer algo esta noite, e não estou vendo alternativa.”<br />
Thorne apareceu caminhando em direção à fogueira, com uma braçada de lebres já abertas e<br />
desentranhadas.<br />
“Aqui está sua alternativa.”<br />
“Onde você encontrou isso?”, perguntou Colin.<br />
“No brejo.” Agachando-se, Thorne pegou uma faca em sua bota e começou a tirar a pele dos<br />
animais com eficiência implacável. O cheiro forte de sangue logo se misturou com o de fumaça e<br />
cinzas.<br />
Colin encarou o soldado.<br />
“Thorne, você me assusta. E não tenho vergonha de dizer isso.”<br />
“Você vai aprender a admirá-lo”, disse Bram. “Thorne sempre consegue uma refeição. O nosso<br />
regimento era o mais bem abastecido da península.”<br />
“Bem, pelo menos isso satisfaz um tipo de fome”, disse Colin. “Agora, quanto à outra... Tenho uma<br />
necessidade insaciável de companhia feminina que precisa ser resolvida. Eu não durmo sozinho.” Ele<br />
olhou para Bram e Thorne. “O que foi? Vocês acabaram de voltar de anos na península. Era de se<br />
imaginar que vocês estivessem salivando.”<br />
Thorne bufou.<br />
“Existem mulheres na Espanha e em Portugal.” Ele pôs de lado uma carcaça esfolada e pegou outra<br />
lebre. “E eu já encontrei uma por aqui.”<br />
“Quê?”, Colin balbuciou. “Quem? Quando?”<br />
“A viúva que nos vendeu ovos na estrada. Ela vai ficar comigo.”<br />
Colin olhou para Bram como se dissesse: Eu devo acreditar nisso?