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A mirada do outro - Educación en valores

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alim<strong>en</strong>ta<strong>do</strong> desde o século XVII e que se exacerbara desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XIX<br />

numa vasta produção panfletária e de propaganda, disseminada em múltiplos<br />

géneros; 2) um s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to de comunhão e de irmandade que aponta no s<strong>en</strong>ti<strong>do</strong><br />

de uma convivência, aproximação diplomática e amizade.<br />

A primeira atitude corresponde a um patriotismo marcadam<strong>en</strong>te historicista<br />

e retórico que vive <strong>do</strong> antagonismo em relação ao espanhol, visto de um<br />

mo<strong>do</strong> indifer<strong>en</strong>cia<strong>do</strong> como ameaça e como opressor, fonte de to<strong>do</strong>s os males.<br />

Traduz-se num corpo de metáforas que exprimem repulsa e ódio. Para qualificar<br />

ou designar os sess<strong>en</strong>ta anos de monarquia dual <strong>do</strong>s finais <strong>do</strong> séc. XVI a<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XVII (1580-1640) empregam-se frequ<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te termos como<br />

“cativeiro” (ou “cativeiro humilhante”), “escravidão”, “opressão”, “<strong>do</strong>mínio<br />

estrangeiro”, pátria “agrilhoada”, “pesa<strong>do</strong> jugo”, “horrível pesadelo”, “decadência<br />

moral”, “túmulo”. Por um la<strong>do</strong>, transmite-se uma imagem extremam<strong>en</strong>te<br />

negativa da administração filipina, remet<strong>en</strong><strong>do</strong> invariavelm<strong>en</strong>te para a ideia de<br />

prisão e para a ausência de liberdade. Por <strong>outro</strong>, caracteriza-se a situação da<br />

nação portuguesa como de decadência e opróbrio. Sali<strong>en</strong>te-se ainda que, não<br />

raro, o opressor estrangeiro é id<strong>en</strong>tifica<strong>do</strong> com Castela 18 . Ou seja, reduz-se a<br />

Espanha a Castela, faz<strong>en</strong><strong>do</strong> tábua rasa de todas as restantes nacionalidades<br />

p<strong>en</strong>insulares.<br />

A segunda atitude a que nos referimos, geralm<strong>en</strong>te associada a um ideal<br />

ecuménico, cosmopolita e humanitário, de convivência pacífica <strong>en</strong>tre as nações,<br />

traduz-se numa retórica segun<strong>do</strong> a qual a Espanha não é uma nação inimiga<br />

mas irmã que, ante o desparecim<strong>en</strong>to de “velhos ódios”, deve ser <strong>en</strong>volvida<br />

num “amplexo fraternal”. Não surpre<strong>en</strong>dem, neste contexto, as expressões de<br />

admiração e os elogios para com o “altivo povo espanhol”, “os bravos de Cuba<br />

e das Filipinas” (note-se que este texto é anterior à guerra hispano-americana<br />

de 1898) 19 . Irmã em que s<strong>en</strong>ti<strong>do</strong>s? Um <strong>outro</strong> académico, em 1894, explicitava<br />

a ideia: irmã pela raça, solo, clima, hábitos, “até quase pela língua 20 ”.<br />

Encontramo-nos aqui muito próximo <strong>do</strong>s argum<strong>en</strong>tos de Sinibal<strong>do</strong> Más, um<br />

<strong>do</strong>s principais teóricos <strong>do</strong> iberismo em mea<strong>do</strong>s de Oitoc<strong>en</strong>tos. Mas, ao invés<br />

de D. Sinibal<strong>do</strong>, o estreitar <strong>do</strong>s vínculos e das relações <strong>en</strong>tre Portugal e<br />

Espanha não deveria prejudicar a indep<strong>en</strong>dência <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is Esta<strong>do</strong>s. Alguns<br />

18. Caso de um manifesto data<strong>do</strong> de 1918. Cf. A. Ramos da Costa, Op. cit., p. 76.<br />

19.<br />

Manuel Roças, texto sem título in Hom<strong>en</strong>agem da Academia Vian<strong>en</strong>se aos heróis de 1640, Viana<br />

<strong>do</strong> Castelo, 1896, p. 3.<br />

20.<br />

Rodrigo Veloso, texto sem título, in Hom<strong>en</strong>agem da Academia Bracar<strong>en</strong>se aos heróis de 1640 no<br />

1 º de Dezembro de 1894, Braga, 1894.<br />

NO TEMPO DO LIBERALISMO<br />

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