A mirada do outro - Educación en valores
A mirada do outro - Educación en valores
A mirada do outro - Educación en valores
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A MIRADA DO OUTRO<br />
218<br />
(...)<br />
Finalm<strong>en</strong>te, no dia 1 de Dezembro desse ano de 1640, reb<strong>en</strong>ta a revolução,<br />
que triunfa em Lisboa. Os conjura<strong>do</strong>s invadem o paço tumultuosam<strong>en</strong>te, e<br />
procuram o trai<strong>do</strong>r Miguel de Vasconcelos. Encontraram-no, escondi<strong>do</strong>,<br />
num armário de papéis. Matam-no e lançam o seu corpo à rua.<br />
A duquesa de Mântua, surpre<strong>en</strong>dida, t<strong>en</strong>ta acalmar os ânimos com promessas.<br />
Mas debalde. Fora <strong>do</strong> Paço, uma multidão <strong>en</strong>orme grita Liberdade!<br />
Liberdade! 10<br />
Outros livros de leitura sali<strong>en</strong>tavam que seria ainda preciso v<strong>en</strong>cer pequ<strong>en</strong>as<br />
e grandes lutas até que a indep<strong>en</strong>dência fosse reconhecida pelo governo espanhol.<br />
11 O facto de se apres<strong>en</strong>tar o <strong>do</strong>mínio filipino como muito nefasto para<br />
Portugal e de ter si<strong>do</strong> difícil e demora<strong>do</strong> o reconhecim<strong>en</strong>to da indep<strong>en</strong>dência<br />
favorecia o des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to duma relação marcada pelo distanciam<strong>en</strong>to <strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>is países ibéricos. Pode-se dizer, que o temor da pret<strong>en</strong>são <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da<br />
Espanha sobre Portugal se construiu sobre estas narrativas de acontecim<strong>en</strong>tos<br />
passa<strong>do</strong>s mesmo se estas procuravam sobretu<strong>do</strong> fundam<strong>en</strong>tar uma dinâmica<br />
social nacionalista e patriótica ass<strong>en</strong>te na vontade <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s. Vontade essa<br />
de que foi primeiro protagonista o primeiro rei de Portugal, como sublinha um<br />
texto modifica<strong>do</strong> de Alexandre Herculano incluí<strong>do</strong> num livro de leitura para a<br />
quarta classe:<br />
Se na batalha <strong>do</strong> campo de S. Mamede, em que D. Afonso H<strong>en</strong>riques arrancou<br />
definitivam<strong>en</strong>te o poder das mãos de sua mãi, ou antes, das <strong>do</strong> conde<br />
Trava, a sorte das armas lhe houvera si<strong>do</strong> adversa, constituiríamos provavelm<strong>en</strong>te<br />
hoje uma província de Espanha. 12<br />
A Espanha surge assim como o incontornável vizinho com quem se não quer<br />
ter relações demasiadam<strong>en</strong>te familiares mas com quem tem de se conviver.<br />
A ideia de vizinhança está bem pres<strong>en</strong>te nos textos <strong>do</strong>s manuais de geografia.<br />
O livro de geografia para as terceira e quarta classes <strong>do</strong> <strong>en</strong>sino primário publica<strong>do</strong><br />
na primeira metade da década de quar<strong>en</strong>ta, depois de distinguir as quatro<br />
grandes potências europeias –Inglaterra, França. Alemanha, Itália–, coloca a<br />
Espanha precisam<strong>en</strong>te a ocupar a P<strong>en</strong>ínsula Ibérica juntam<strong>en</strong>te com Portugal.<br />
10 Livro de Leitura da 3ª classe, 2 ed., 1954, pp. 120-121.<br />
11 Clotilde e Correia, J. Diogo, Leituras para a 3ª classe, 5ª ed., 1937, pp. 86-87; Livro de Leitura<br />
da 3ª classe, 2 ed., 1954, pp. 159-160.<br />
12 Mateus, Clotilde e Correia, J. Diogo, Leituras para a IVª classe, 3ª ed., 1937, p.23.