A mirada do outro - Educación en valores
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Carneiro Pacheco como ministro da instrução pública, se avançaria convictam<strong>en</strong>te<br />
com uma política educativa mais coincid<strong>en</strong>te com o p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to de<br />
Oliveira Salazar.<br />
Breves semanas depois de nomea<strong>do</strong> como ministro Carneiro Pacheco, era<br />
aprovada pela Assembleia Nacional uma lei intitulada “Remodelação <strong>do</strong><br />
Ministério da Instrução Pública” onde se definiam as grandes bases que determinavam<br />
o s<strong>en</strong>ti<strong>do</strong> da política a seguir pelo Esta<strong>do</strong> Novo neste <strong>do</strong>mínio. Logo à<br />
<strong>en</strong>trada da lei, a alteração <strong>do</strong> nome <strong>do</strong> Ministério da Instrução Pública para<br />
Ministério da Educação Nacional deixava transparecer a nítida int<strong>en</strong>ção <strong>do</strong> regime<br />
em privilegiar a educação em detrim<strong>en</strong>to da instrução. Para a g<strong>en</strong>eralidade<br />
da população <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dia-se bastar uma instrução rudim<strong>en</strong>tar ass<strong>en</strong>te no ler, escrever<br />
e contar, articulada com conteú<strong>do</strong>s que deviam favorecer o apego ao nacionalismo<br />
e ao catolicismo.<br />
Relevantes para o assunto que estamos a abordar são as Bases IX e X que se<br />
debruçam precisam<strong>en</strong>te sobre os programas e sobre os livros de <strong>en</strong>sino. Na Base<br />
IX dizia-se que seriam “revistos os quadros das disciplinas e respectivos programas<br />
em to<strong>do</strong>s os graus de <strong>en</strong>sino” e na seguinte afirmava-se que nos estabelecim<strong>en</strong>tos<br />
de <strong>en</strong>sino de to<strong>do</strong> o País, com exclusão <strong>do</strong> superior, haveria um único<br />
compêndio para cada ano ou classe nas disciplinas de História de Portugal, de<br />
História Geral, de Filosofia e de Educação Moral e Cívica.<br />
Ainda no mesmo ano de 1936, publicava-se um decreto-lei com a indicação<br />
<strong>do</strong> currículo a ser ministra<strong>do</strong> ao <strong>en</strong>sino primário obrigatório e nele fica bem<br />
claro quanto esse <strong>en</strong>sino deveria ser reduzi<strong>do</strong> ao mínimo: “Língua Portuguesa<br />
(leitura, redacção, e feitos pátrios); Aritmética e Sistema Métrico; Moral;<br />
Educação Física; Canto Coral”. O texto que antecede o articula<strong>do</strong> justifica a<br />
opção por tal currículo afirman<strong>do</strong> “que o <strong>en</strong>sino primário elem<strong>en</strong>tar trairia a sua<br />
missão se continuasse a sobrepor um estéril <strong>en</strong>ciclopedismo racionalista, fatal<br />
para a saúde moral e física da criança, ao ideal prático e cristão de <strong>en</strong>sinar bem<br />
a ler, escrever e contar, e a exercer as virtudes morais e um vivo amor a Portugal”.<br />
Ora para que tal desiderato fosse consegui<strong>do</strong> era importante que os manuais<br />
reflectissem esta posição oficial e, portanto, o melhor era mesmo conseguir produzir<br />
um livro capaz de aliciar as crianças e de, simultaneam<strong>en</strong>te, ser eficaz no<br />
que diz respeito à formação duma m<strong>en</strong>talidade nacionalista e católica. Foi exactam<strong>en</strong>te<br />
com esse intuito que o m<strong>en</strong>ciona<strong>do</strong> decreto-lei avançou para a “imediata<br />
caducidade da aprovação oficial de to<strong>do</strong>s os livros <strong>do</strong> <strong>en</strong>sino primário”, deixan<strong>do</strong><br />
espaço para uma iniciativa organizada e controlada pelo Ministério.<br />
De facto, em 1937, abria-se um concurso público para a elaboração <strong>do</strong> texto<br />
para livro único, todavia, depois de recebi<strong>do</strong>s os originais, n<strong>en</strong>hum seria consi-<br />
NACIONALISMOS DE ESTADO<br />
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