06.05.2013 Views

A mirada do outro - Educación en valores

A mirada do outro - Educación en valores

A mirada do outro - Educación en valores

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A MIRADA DO OUTRO<br />

10<br />

<strong>outro</strong>s exemplos. Num projecto aprova<strong>do</strong> pela assembeia geral da Comissão<br />

1.º de Dezembro, <strong>en</strong>tregue ao governo em 1910, afirmava-se que “as festas da<br />

Restauração, afastan<strong>do</strong> o carácter de represália <strong>en</strong>tre povos que se consideram<br />

irmãos, deve assumir som<strong>en</strong>te o de sol<strong>en</strong>ização da autonomia da Pátria<br />

Portuguesa, despr<strong>en</strong>dida de to<strong>do</strong> e qualquer intuito reserva<strong>do</strong>” 21 António José<br />

de Almeida, <strong>en</strong>quanto Presid<strong>en</strong>te da República, pronuncia a 1 de Dezembro<br />

de 1921, um significativo discurso em que afirma não existir n<strong>en</strong>hum inimigo<br />

contra quem Portugal t<strong>en</strong>ha que se precaver e que a Espanha “é há im<strong>en</strong>so<br />

tempo nossa amiga e nós somos amigos dela” (sublinha<strong>do</strong>s nossos). Poderá perguntar-se<br />

que s<strong>en</strong>ti<strong>do</strong> poderia <strong>en</strong>tão ter comemorar o 1. de Dezembro? No<br />

<strong>en</strong>t<strong>en</strong>der <strong>do</strong> <strong>en</strong>tão Presid<strong>en</strong>te a data deveria considerar-se “um aviso, uma prev<strong>en</strong>ção<br />

e um exemplo” (sublinha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Autor) 22 .<br />

Estas duas posições em relação à Espanha não correspondem necessariam<strong>en</strong>te<br />

a corr<strong>en</strong>tes políticas difer<strong>en</strong>ciadas, antes parece haver uma oscilação<br />

<strong>en</strong>tre elas, consoante as conjunturas. A conjuntura da Grande Guerra, em que<br />

se receou uma aproximação da Espanha à Alemanha e a consequ<strong>en</strong>te ameaça<br />

anexionista p<strong>en</strong>insular e africana, terá contribuí<strong>do</strong> (e não pouco) para uma verdadeira<br />

maré de hispanofobia que se traduz no receio de assimilação económica<br />

e financeira. Em 1918, pouco antes <strong>do</strong> final <strong>do</strong> conflito, são frequ<strong>en</strong>tes as<br />

notícias na impr<strong>en</strong>sa periódica chaman<strong>do</strong> a at<strong>en</strong>ção para a emin<strong>en</strong>te compra<br />

de acções da Companhia <strong>do</strong>s Caminhos de Ferro portuguesa por parte de<br />

financeiros espanhóis, para a sistemática compra de propriedades junto à fronteira<br />

23 , ou para a ameaça <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res espanhóis aos interesses pesqueiros<br />

portugueses 24 . Receios que poderiam ser expressos ainda nos dias de hoje por<br />

alguns sectores profissionais portugueses ou por um certo conserva<strong>do</strong>rismo<br />

anti-europeísta que vive obcecadam<strong>en</strong>te a “invasão” <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> nacional pelos<br />

grupos financeiros e pela produção industrial e agrícola de origem espanhola.<br />

Este nacionalismo exclusivista, avesso ao <strong>outro</strong> próximo, chega a expressões<br />

que hoje nos parecem anedóticas. Em 1927, em nome da defesa <strong>do</strong>s caracteres<br />

portugueses e de combate às cobardias, um funcionário público da vila raiana<br />

de Vila Nova da Barquinha, patriota exalta<strong>do</strong>, d<strong>en</strong>unciava que “até se lançam<br />

g<strong>en</strong>tis mulheres estrangeiras para nos cativarem, torcerem o ânimo e levan<strong>do</strong>nos,<br />

pelos s<strong>en</strong>ti<strong>do</strong>s, quiçá, a abdicar <strong>do</strong> interesse pelas coisas da nossa casa (…)<br />

21. E. Ramos da Costa, Op. cit., p. 153.<br />

22.<br />

Idem, pp. 182-183.<br />

23.<br />

“Um caso grave”, O Mun<strong>do</strong>, 23-05-1918.<br />

24. “Reflexões de El Sol”, O Dia, 10-06-1918.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!